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Internacional/Médio-Oriente: Imagens de caos e fome em Gaza abalam a comunidade internacional e expõem falhas na ajuda humanitária

A ONU denuncia imagens “dilacerantes” enquanto Israel admite “perda momentânea de controlo”. Milhares de palestinianos famintos precipitaram-se, esta terça-feira, 27 de maio, sobre um novo centro de distribuição de ajuda gerido por uma fundação apoiada por Israel e pelos Estados Unidos, no sul da Faixa de Gaza, provocando cenas de caos.

A nova Fundação Humanitária de Gaza (GHF), responsável por estes centros de ajuda, declarou que a afluência foi de tal ordem que a sua equipa “teve de recuar para permitir que um número reduzido de habitantes recebesse apoio em segurança, antes de se dispersar.”

Contudo, a GHF enfrenta sérias críticas por parte da comunidade humanitária internacional. A organização é acusada de facilitar os objetivos militares israelitas em Gaza, violando os princípios da ação humanitária, contornando a ONU e excluindo os próprios palestinianos.

“As forças israelitas começaram a disparar”

Ayman Abou Zaïd, um deslocado palestiniano, descreveu à AFP os momentos de tensão:


“Estava na fila, num ponto de distribuição em Rafah, com centenas de pessoas, quando de repente muita gente começou a empurrar e a entrar de forma totalmente desorganizada.” Segundo ele, este comportamento foi motivado pela escassez de ajuda e pelo atraso nas entregas.

“Num certo momento, as forças israelitas começaram a disparar. O som foi aterrador e as pessoas começaram a fugir. No entanto, alguns continuaram a tentar recolher ajuda, apesar do perigo”, relatou.

A chamada “invasão” do centro por milhares de famintos evidencia, segundo o gabinete de imprensa do governo do Hamas na Faixa de Gaza, que “os esforços israelitas para distribuir ajuda contornando a ONU falharam miseravelmente.”

Netanyahu admite falha momentânea

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reconheceu na noite de terça-feira “uma perda momentânea de controlo” no centro em questão. Apesar disso, um alto responsável militar considerou que a operação foi “um sucesso.”

De acordo com a Fundação Humanitária de Gaza, as operações normais foram retomadas após o incidente. A GHF afirma ter distribuído até agora 8.000 pacotes de alimentos, correspondentes a 462.000 refeições, numa região com 2,4 milhões de habitantes.

Mas as imagens de caos provocaram uma forte reação internacional, numa altura em que Israel intensificou os seus bombardeamentos sobre o território palestiniano desde meados de maio. O país é também acusado de permitir a entrada de ajuda humanitária em quantidades insuficientes.

ONU e EUA trocam acusações

Visivelmente chocado pelas imagens, o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, falou de “pessoas desesperadas a tentar obter ajuda em condições que vão contra os princípios humanitários.”

Por seu lado, Washington considerou as críticas da ONU como “o cúmulo da hipocrisia.” A porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, reagiu:
“É lamentável. O que está em causa é a entrega de ajuda em Gaza e, de repente, critica-se a forma como isso está a ser feito e quem o faz.”

Registada em fevereiro em Genebra, a GHF não tem escritórios nem representantes conhecidos na cidade, que é sede de muitas organizações humanitárias. O seu antigo diretor executivo, Jake Wood, apresentou demissão no domingo, afirmando ser “impossível cumprir os princípios de neutralidade e independência” no trabalho da fundação.

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