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Internacional/Ásia: Morte de Myint Swe reabre debate sobre crise política e legitimidade do poder militar em Myanmar

Figura simbólica da presidência, Swe deixa para trás um país devastado por guerra civil, incertezas eleitorais e perda de controle do território

O ex-presidente militar de Myanmar, Myint Swe, faleceu aos 74 anos, após uma longa ausência dos deveres oficiais devido a problemas de saúde relacionados com doença de Parkinson, segundo informou a mídia estatal birmanesa nesta quinta-feira.

De acordo com o comunicado oficial, “o presidente U Myint Swe faleceu às 8h28 da manhã”, sendo que o ex-líder receberá funeral de Estado.

De general a presidente simbólico

Myint Swe era ex-general das Forças Armadas de Myanmar e assumiu a presidência em 2021, logo após o golpe militar que depôs o governo civil de Aung San Suu Kyi. Apesar do título, o verdadeiro poder foi concentrado nas mãos do comandante-chefe Min Aung Hlaing, que se tornou o líder de facto do país.

Antes do golpe, Swe ocupou vários cargos de liderança durante o breve período de governo semi-democrático do país, incluindo o de vice-presidente.

Em 2024, Myint Swe foi internado num hospital militar na capital, Naypyidaw, enfrentando perda de peso, febre, falta de apetite e declínio cognitivo.

Guerra civil, eleições contestadas e crise social

A morte de Myint Swe ocorre uma semana após Min Aung Hlaing suspender o estado de emergência no país, no meio de uma prolongada guerra civil, e anunciar eleições para dezembro.

No entanto, grupos de oposição já prometeram boicotar o pleito, alegando que se trata de uma tentativa do regime militar de legitimar o seu controle sem abrir mão do poder real. Observadores internacionais também apontam que a transferência nominal para um « governo interino civil » é puramente simbólica.

Desde o golpe de 2021, o país mergulhou num conflito violento, com a resistência armada crescendo, especialmente entre jovens pró-democracia e grupos étnicos armados.

Estima-se que, atualmente, o governo militar controla apenas cerca de 20% do território nacional, embora mantenha domínio sobre as principais cidades. A vida nas zonas de conflito é marcada por deslocamentos forçados, acesso limitado a alimentos, medicamentos e escolas, afetando sobretudo os pequenos agricultores e a juventude rural.

Um legado de instabilidade

Myint Swe deixa um legado controverso: assumiu a presidência num momento crítico, mas sem poder real de decisão. Foi a face civil de um regime amplamente denunciado por violações de direitos humanos, repressão violenta de protestos e censura sistemática.

A sua morte, embora previsível devido ao seu estado de saúde, marca simbolicamente o fim de uma era de fachada institucional num país onde a repressão substituiu o diálogo político.

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