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Internacional/Europa: Escândalo de espionagem abala agência anticorrupção da Ucrânia e gera alarme internacional

SBU e Procuradoria denunciam infiltração do FSB no NABU; G7 e Transparency International expressam preocupações graves sobre pressões contra instituições anticorrupção

Um escândalo de espionagem ameaça minar a credibilidade das instituições anticorrupção da Ucrânia, após o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) e o Gabinete do Procurador-Geral (OGP) denunciarem a infiltração do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) no Bureau Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU).

Segundo comunicado oficial divulgado na segunda-feira, um funcionário do NABU, pertencente à unidade de elite « D-2 », foi detido por atuar como espião a soldo dos serviços secretos russos. A operação foi conduzida pelo SBU em cooperação com o Ministério Público.

De acordo com a investigação, as ações do infiltrado eram coordenadas por Dmytro Ivantsov, antigo vice-chefe de segurança do ex-presidente pró-russo Viktor Ianukovytch. Ivantsov, que ajudou o presidente fugitivo a escapar para a Rússia em 2014, teria permanecido na Crimeia — anexada ilegalmente pela Rússia — e ali sido recrutado pelo FSB.

Fontes do jornal Ukrainska Pravda indicam que o nome do agente infiltrado seria Viktor Goussarov. O espião recolhia e transmitia aos serviços russos dados sensíveis sobre agentes da lei e cidadãos ucranianos, extraídos de bases de dados restritas. O SBU afirma que há registo de pelo menos 60 episódios de transferência de informação confidencial, remunerados com depósitos diretos em cartão bancário.

Reação imediata: operações massivas e polêmica

A revelação coincidiu com uma série de rusgas simultâneas realizadas nas instalações do NABU, sem mandado judicial, envolvendo cerca de 80 buscas dirigidas a 19 funcionários da agência em várias regiões do país. Muitos deles são acusados de envolvimento em acidentes de viação antigos, e outros, de possíveis ligações com a Rússia.

Durante estas ações, foi também detido Rouslan Magamedrassoulov, um dos chefes de departamentos inter-regionais do NABU, suspeito de realizar atividades económicas com a Rússia.

NABU nega as acusações e denuncia abusos

O NABU reagiu com firmeza, negando a existência de qualquer prova concreta contra o funcionário detido. A instituição afirma que já havia identificado riscos potenciais em 2023 e que, após uma verificação conjunta com o próprio SBU, nenhuma evidência foi encontrada na altura. A agência anticorrupção também condenou o uso de força contra os seus colaboradores e as investigações sem autorização judicial, considerando-as abusivas.

O NABU sublinhou ainda que a maioria das acusações não tem ligação com atividades antiestatais, mas referem-se a casos irrelevantes e antigos, como infrações de trânsito.

Clima de tensão institucional e condenação internacional

A tensão é crescente num contexto de remodelação governamental e mudanças na liderança política, interpretadas por analistas como tentativas de responder à insatisfação popular.

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A ONG Transparency International condenou veementemente as ações, afirmando que representam uma « pressão massiva e inaceitável » sobre as instituições anticorrupção formadas após a Revolução da Dignidade (Maïdan). A organização alertou que o objetivo parece ser obter informações à força e influenciar investigações sensíveis sobre altos dirigentes.

G7 manifesta preocupação e exige explicações

Os embaixadores dos países do G7 em Kyiv também expressaram « sérias preocupações » e comunicaram a intenção de discutir os acontecimentos com membros do governo ucraniano. « Apoiamos a transparência, instituições independentes e a boa governação », declararam, reafirmando o compromisso na luta conjunta contra a corrupção na Ucrânia.

As tensões aumentam num momento em que Vitaliy Shabunin, conhecido ativista anticorrupção, foi acusado de fraude e evasão ao serviço militar, levantando suspeitas sobre eventuais motivações políticas nas perseguições judiciais.

A administração do presidente Volodymyr Zelensky rejeita qualquer interferência política nos processos em curso.