Polícias moçambicanos querem descobrir colegas que ajudam insurgentes

“A inteligência militar deve funcionar, deve fazer um trabalho rigoroso para descobrir eventuais infiltrados”, afirmou o presidente da Amopaip, Nazário Muanambane, em declarações à Lusa.

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Vários analistas e consultores em segurança têm alertado para uma possível colaboração entre alguns membros das FDS moçambicanas com os grupos armados que atuam no norte do país, apontando a precisão e o momento dos ataques, bem como o facto de alguns “insurgentes” usarem fardamento das forças governamentais como alegados indícios dessa cooperação.

Segundo o presidente da Amopaip, a neutralização de “agentes do inimigo” no seio das FDS é fundamental para “o fortalecimento da defesa e capacidade operacional” das forças governamentais.

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“A guerra contra grupos armados e a criminalidade ganha-se também na recolha de informação e apanhando os traidores infiltrados no nosso seio”, destacou Nazário Muanambane.

Por outro lado, a neutralização de membros das FDS que colaboram com “as forças inimigas” será igualmente importante para a moralização das forças governamentais.

“Quando os maus não são apanhados, os bons também são suspeitos e ficam desmoralizados. É importante tirar o `peixe podre` antes que todo o `peixe` fique contaminado”, comparou o presidente da Amopaip.

Nazário Muanambane defendeu igualmente a necessidade de mobilização das populações para cooperarem com o Governo no combate aos grupos armados e à criminalidade, porque muitos dos “delinquentes são conhecidos pelas comunidades”.

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“Precisamos de ter as comunidades do nosso lado, porque conhecem cada um dos seus jovens, seu comportamento e é por isso que estamos disponíveis para apoiar na reativação dos conselhos de policiamento comunitário nas zonas em que há problemas”, acrescentou.

Os conselhos de policiamento comunitário, prosseguiu, seriam uma grande ajuda no combate ao crime, porque os membros da comunidade que integram essas estruturas podem detetar comportamentos suspeitos e passar informação às autoridades.

Docentes e investigadores do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Universidade Joaquim Chissano, universidade estatal moçambicana, alertaram há um ano – após os primeiros grandes ataques de insurgentes, com ocupação de sedes de distrito – para sinais de que as Forças de Defesa e Segurança do país não estão preparadas nem empenhadas para combater os grupos armados que atacam o norte do país.

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“Cresce a desconfiança sobre o vazamento de informações para os terroristas, onde se verifica a colaboração de alguns militares”, lia-se no documento, aludindo a suspeitas de “esquemas de corrupção no seio das forças”, havendo “uma necessidade urgente de incrementar o efetivo, as tarefas, missões e funções da Polícia Militar”.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo `jihadista ` Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes e 700.000 mil deslocados.

O mais recente ataque foi feito a 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expetativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

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