As explicações comportamentais são frequentemente utilizadas para justificar a diferença na esperança de vida entre homens e mulheres. Contudo, um novo estudo sugere que a origem deste fenómeno pode ser genética.
De acordo com o relatório demográfico de 2019, conduzido pelo Instituto Nacional de Estatística e Estudos Económicos, as crianças nascidas atualmente têm uma esperança média de vida de 85,6 anos para as raparigas e 79,7 anos para os rapazes. Estudos anteriores atribuíam esta discrepância ao comportamento masculino: maior propensão a assumir riscos, empregos mais perigosos e um estilo de vida menos saudável, fatores que aumentam os riscos cardiovasculares nos homens.
Contudo, uma investigação publicada a 4 de março de 2020 na revista Biology Letters aponta para uma causa genética para esta diferença.
A teoria do X desprotegido
Investigadores australianos revisitaram a literatura científica sobre a relação entre os cromossomas sexuais e a longevidade, com o objetivo de validar a teoria do “X desprotegido”. Nos mamíferos, incluindo os humanos, o sistema de determinação do sexo é XX para as fêmeas e XY para os machos.
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Comprar um espaço para minha empresa.Segundo esta teoria, uma mutação prejudicial no cromossoma X tende a ser expressa no sexo heterogéneo (XY), pois não existe um segundo cromossoma X para mascarar o efeito. Já no sexo homogéneo (XX), esta mutação é geralmente compensada pela presença do outro cromossoma X. Em contraste, em aves, borboletas e traças, o sexo homogéneo é o macho (ZZ), enquanto a fêmea é heterogénea (ZW), o que implica que a fêmea, neste caso, teria uma esperança de vida menor.
Fêmeas vivem mais, mas não sempre
Os dados recolhidos sobre 229 espécies diferentes confirmam que o sexo heterogéneo tende a morrer mais cedo — em média, 17,6% mais cedo do que o sexo homogéneo, segundo explica Zoe Xirocostas, autora principal do estudo.
No entanto, permanece um mistério: a diferença na esperança de vida entre machos e fêmeas heterogéneos é maior do que a entre machos e fêmeas homogéneos. Por exemplo, em espécies onde os machos são heterogéneos (XY), as fêmeas vivem cerca de 21% mais. Já nas espécies em que as fêmeas são heterogéneas (ZW), os machos vivem apenas 7% mais do que as fêmeas.
Explicações futuras
Várias hipóteses procuram explicar estas discrepâncias, como a possibilidade do cromossoma Y degradar-se mais rapidamente do que o cromossoma W. No entanto, são necessários mais estudos para confirmar estas teorias.