UNICEF estima 350 mil crianças deslocadas em Cabo Delgado

A agência das Nações Unidas para as crianças (UNICEF) estima que o conflito em Cabo Delgado tenha já feito 350 mil deslocados entre crianças, das quais mais de 17 mil devido ao ataque a Palma.  

Em comunicado, a UNICEF apela à proteção das 350.000 crianças crianças vítimas da violência em Cabo Delgado e alerta para a urgência de ajuda humanitária à população de Cabo Delgado, assolada também pela covid-19 e cólera, além da pobreza extrema. 

Na terça-feira, a UNICEF recebeu um grupo de crianças evacuadas de Afungi pelos Serviços Aéreos Humanitários da ONU, das quais pelo menos sete estavam não acompanhadas. 

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“Desorientadas e com medo, muitas destas crianças passaram dias escondidas no mato, sem comida e água. A situação, que já era grave antes do recente ataque de Palma, ganha agora contornos ainda mais urgentes e desafiantes para as equipas da UNICEF no terreno”, refere a agência da ONU. 

Segundo a Directora Executiva da UNICEF, Henrietta Fore, o impacto do ataque em Palma, sobre as crianças, poderá ser “brutal”. 

“Palma já acolhia mais de 35.000 pessoas deslocadas vindas de outras zonas da província devido a ataques anteriores. Metade destas pessoas são crianças. As vias terrestres de acesso ao distrito foram cortadas devido à insegurança nos últimos meses, com níveis mínimos de fornecimento de artigos e assistência a chegarem por via aérea e marítima”, disse Fore. 

Pequenas quantidades de alimentos e outros artigos começaram a chegar recentemente, mas, até há poucos dias, grande parte do distrito para além da capital (Pemba) era praticamente inacessível aos colaboradores humanitários, adianta.

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As últimas três unidades de saúde funcionais deixaram de estar operacionais e o hospital principal foi destruído, enquanto no Hospital Provincial de Pemba, há crianças feridas a receber cuidados e mais a caminho. 

A vila de Palma, cerca de 25 quilómetros do projeto de gás natural da multinacional Total, sofreu um ataque armado na quarta-feira da semana passada, que as autoridades moçambicanas dizem ter resultado na morte de dezenas de pessoas e na fuga de centenas.

A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da ONU, e mais de duas mil mortes.

A UNICEF adianta que está a preparar-se para receber as crianças em vários pontos da província, calculando que “precisarão de absolutamente tudo – protecção, nutrição, cuidados de saúde e alguém para as ouvir e proporcionar apoio psicossocial”. 

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Beatriz Imperatori, Directora Executiva da UNICEF Portugal, salienta que “a situação em Moçambique é gravíssima”, somando-se ao alastrar da pandemia da covid-19, um surto de cólera que está a evoluir para outras províncias e a recuperação das catástrofes naturais.

“Moçambique enfrenta ainda as consequências de um conflito armado que já obrigou a deslocar cerca de 350.000 crianças. As populações locais têm vindo a enfrentar choque após choque – incluindo ciclones e eventos climáticos extremos, desde 2019”, afirmou Imperatori. 

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A UNICEF, que está a receber donativos para apoio às operações em Cabo Delgado, apela a todas as partes para que façam tudo ao seu alcance para manter as crianças fora de perigo, para proteger os trabalhadores humanitários e para permitir o acesso rápido, desimpedido e sustentado aos civis que precisam de assistência.  

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