O muito aguardado julgamento por tráfico sexual envolvendo a estrela do rap P.Diddy começou esta semana em Nova Iorque. As primeiras audiências, marcadas por depoimentos comoventes, revelaram detalhes perturbadores sobre as acusações feitas por Casandra « Cassie » Ventura, ex-companheira do rapper, que o acusa de abusos sexuais e violência doméstica.

Sean Combs, mais conhecido como P.Diddy, é acusado de utilizar o seu império musical para organizar um esquema de tráfico sexual. Se for considerado culpado, poderá enfrentar prisão perpétua.

O depoimento chave de Cassie

Perante o tribunal de Nova Iorque, Casandra « Cassie » Ventura, também cantora, descreveu como foi forçada por P.Diddy a participar em orgias com homens prostituídos. Segundo ela, esses episódios ocorriam regularmente, às vezes semanalmente, ao longo de vários anos.

Cassie revelou ainda que Sean Combs a incentivava a consumir drogas antes desses atos, substâncias que ele chamava de « freaks-offs ». Imagens captadas por câmaras de vigilância, datadas de 2016, mostram o rapper a agredir violentamente a sua companheira num corredor de um hotel em Los Angeles.

Cassie, atualmente com 38 anos e grávida de oito meses e meio, relatou, muitas vezes em lágrimas, os momentos de violência física que sofreu: « Ele batia-me na cabeça, atirava-me ao chão, arrastava-me, dava-me pontapés, batia-me na cabeça enquanto eu estava caída ».

Drogas e manipulação emocional

A defesa procurou traçar um quadro diferente de Cassie, apresentando-a como uma mulher que teria consentido voluntariamente nessas aventuras sexuais e que inclusive as planeava.

Segundo a advogada Anna Estevao, Cassie estava envolvida num contexto de forte dependência de opióides, cetamina e outras drogas. E-mails e mensagens de texto, com teor sexual explícito, foram apresentados para tentar demonstrar que a relação era consensual, embora marcada por ciúmes, traições e episódios de violência de ambos os lados.

Teny Geragos, advogado de defesa de P.Diddy, classificou as acusadoras como « mulheres adultas, capazes e fortes » e descreveu a relação entre Combs e Ventura como « tóxica », mas entre duas pessoas que supostamente se amavam.

A família de P.Diddy e o lado obscuro da fama

Durante a audiência, Sean Combs, visivelmente envelhecido após meses de detenção, contou com o apoio da sua mãe, Janice, e dos seus filhos, incluindo as suas filhas gémeas de 18 anos.

Com um património estimado em mais de 700 milhões de dólares, P.Diddy construiu um império através da música, da moda e da indústria do álcool. Era conhecido por organizar festas luxuosas e extravagantes, atraindo a elite do mundo do entretenimento.

O que esperar das próximas semanas?

Casandra Ventura foi a primeira de duas testemunhas-chave esperadas no julgamento. A próxima é uma mulher identificada apenas como « Jane ».

Para garantir a condenação de Sean Combs, os procuradores terão de provar que ele liderava uma organização criminosa, com o apoio dos seus funcionários, que executavam as suas ordens.

Outros testemunhos já ouvidos incluem um antigo agente de segurança do hotel onde Cassie foi agredida, um homem prostituído que participou nas orgias e um polícia presente na prisão do rapper no ano passado.

Dawn Richard, cantora que alcançou a fama num reality show produzido pelo acusado, também está a depor. Ela já havia apresentado uma queixa civil contra P.Diddy por agressão sexual e violência.

As próximas testemunhas esperadas são Kerry Morgan, uma antiga amiga próxima de Cassie, e a mãe da cantora, cujos depoimentos poderão ser decisivos para o desfecho do processo.