O Grupo Wagner, uma rede mercenária ligada à Rússia, está sob intensa investigação do Tribunal Penal Internacional (TPI) devido a alegações de crimes de guerra na África Ocidental, com especial enfoque em Mali. Pela primeira vez, o tribunal examina se a partilha de imagens gráficas de atrocidades nas redes sociais, especialmente no Telegram, pode constituir um crime de guerra.
Segundo relatórios confidenciais, a presença da Wagner em Mali resultou num aumento alarmante de crimes de guerra, com mercenários a registarem e a difundirem atos brutais, como decapitações e desmembramentos. Lindsay Freeman, do Centro de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da UC Berkeley, explica: “Desde que a Wagner entrou em combate em Mali, assistimos a uma escalada de crimes de guerra e violações dos direitos humanos, incluindo decapitações brutais e desmembramentos, que sabemos porque eles próprios gravam e publicam nas suas redes sociais no Telegram.”
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Comprar um espaço para minha empresa.A investigação do TPI irá avaliar se a publicação dessas imagens chocantes constitui uma violação do direito internacional. Freeman destaca ainda que o conteúdo gráfico tem gerado grande envolvimento online, com alguns canais a lucrar com este material perturbador: “Quanto mais gráfico o material, maior o envolvimento e maior o crescimento do grupo.”
Para além da Wagner, os relatórios pedem também que o tribunal investigue os governos de Mali e Rússia pelo seu alegado envolvimento em atrocidades entre dezembro de 2021 e julho de 2024, incluindo execuções sumárias, tortura, mutilações e até canibalismo nas regiões norte e centro de Mali.
Beverly Ochieng, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, alerta que a saída da Wagner não trará uma mudança significativa na situação de segurança em Mali. “A Rússia pretende continuar presente no país sob a designação ‘Africa Corps’, ainda constituído por forças Wagner. É provável que a violência prossiga, especialmente por parte do grupo Al-Qaida, que responde às ações russas.”
Com o recuo dos Estados Unidos e outras potências ocidentais na região, a Rússia intensifica as suas relações militares com diversos países africanos, sendo a Wagner uma peça-chave nesta influência. A estreita ligação do grupo aos serviços de inteligência e militares russos evidencia a continuação do impacto russo no continente africano.