Depois de Jake Daniels, de 17 anos, membro da equipa inglesa da segunda divisão Blackpool, ter saído do armário, o mundo do futebol ficou abismado com as reacções.

Jake Daniels é um dos poucos futebolistas a ter-se declarado homosexual durante a sua carreira. O americano Collin Martin e o australiano Josh Cavallo também, em 2018 e 2020, respectivamente.

O pioneiro neste campo continua a ser Justin Fashanu, que contou a sua história em 1990. A fundação criada após o seu suicídio elogiou Jake Daniels. A sobrinha de Fashanu, Amal, também disse à BBC Radio 4: “Este é um momento incrível. Tenho arrepios porque parece que finalmente existe um futebolista que se sente confortável o suficiente para dizer e ser quem é. Sinto que o meu trabalho ao longo dos últimos dez anos está a dar os seus frutos. Prova que o ambiente está a começar a mudar. Claro, não será fácil e os fãs provavelmente irão falar sobre isso, mas não será tão mau como todos pensavam e certamente não tão mau como aquilo com que Justin teve de lidar”.

Uma FIFA hipócrita

Kick it Out, a organização britânica que combate a discriminação no futebol e noutras áreas, felicitou Daniels pelo momento “histórico”, acrescentando: “Devemos lembrar que há um jovem no centro disto, que não deve ser definido por este momento ou por esta parte da sua identidade”.

Alguns futebolistas profissionais britânicos falaram depois de pendurarem as suas botas. Um deles, Thomas Beattie, esteve em contacto com Daniels antes do seu anúncio. Ajudou o jovem de 17 anos a colocar restrições às suas contas nos meios de comunicação social para o proteger de algumas reacções potencialmente violentas.

Beattie também falou à BBC sobre as consequências da sua saída: “É esmagador e porque eu próprio já passei por isso, conheço as emoções que lhe estão associadas. Vai-se do medo à excitação, da preocupação à ansiedade. Tudo isto, no seu conjunto, torna-o muito especial. Eu sei o que é levar uma vida dupla e esconder uma parte de mim. Estou tão feliz por ele poder ser ele próprio”.

Thomas Hitzlsperger, o antigo internacional alemão, que anunciou ser gay pouco depois da sua reforma, desejou à Daniels uma grande carreira e saudou o facto de o jovem poder ter o apoio do seu clube Blackpool.

Nos meios de comunicação social, os clubes de futebol fizeram fila para expressar o seu apoio ao jovem inglês. As associações de futebol, tais como a FIFA, também reagiram rapidamente. Mas a associação mundial de futebol foi rapidamente criticada, pois muitos adeptos de futebol consideram-na hipócrita. Para eles, tal mensagem não faz sentido se, ao mesmo tempo, organiza Taças do Mundo em países onde um Jake Daniels não seria bem-vindo.

Coragem e bravura

Muitos jogadores também postaram mensagens de apoio. Harry Kane (Tottenham) e David de Gea (Manchester United) expressaram o seu apoio nas suas redes sociais. O britânico publicou no Twitter: “BRAVO para si e a forma como os seus amigos, família, clube e capitão o apoiaram. O futebol deve ser acessível a todos”. O guarda-redes espanhol elogiou o adolescente pela sua “incrível coragem e bravura”. O antigo defensor do Manchester United Rio Ferdinand apelou a um “ambiente seguro e solidário para a comunidade gay no futebol e não só”.

Gary Neville chegou mesmo a afirmar no Sky Sports que o desporto não estava a lidar bem com a questão. “Há vinte anos atrás já nos reuníamos com jogadores para discutir o facto de os futebolistas não se sentirem suficientemente à vontade com a questão. Agora sabemos que os fãs podem aceitar jogadores homossexuais, mas nem sempre é esse o caso no camarim. O camarim pode ser um lugar mau com cerimónias de iniciação, pressão dos pares e a vulnerabilidade de alguns jogadores. O que Jake fez exigiu muita coragem. Este dia é importante para ele e para a sua família, mas também para o futebol inglês. É um anúncio que vai ficar nos livros de história”, disse o antigo lateral direito.