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Internacional/America: Trump ordena envio da Guarda Nacional para conter protestos em Los Angeles contra expulsões em massa de migrantes ilegais

Confrontos entre manifestantes e agentes da imigração já duram dois dias consecutivos na Califórnia. Decisão presidencial reacende tensões políticas com autoridades locais.

Para o segundo dia consecutivo, Los Angeles foi palco de confrontos intensos entre manifestantes e agentes federais da polícia de imigração, em protesto contra as expulsões em massa de migrantes ilegais. A medida, parte integrante da política migratória do ex-presidente Donald Trump, motivou a mobilização da Guarda Nacional, cuja ordem de envio foi dada este sábado.

Os protestos tiveram início na sexta-feira, 6 de junho, após a detenção de dezenas de pessoas por parte dos agentes do ICE – a polícia de imigração norte-americana. As detenções ocorreram em vários pontos de Los Angeles e provocaram reações imediatas da população, que se concentrou no centro da cidade. A tensão escalou rapidamente, dando origem a confrontos entre os manifestantes e os agentes da ICE.

Este sábado, 7 de junho, os distúrbios alastraram-se a bairros como Paramount, predominantemente hispânico, e Compton, intensificando o ambiente de instabilidade social.

Durante a manhã, elementos da ICE reuniram-se junto a uma loja da cadeia Home Depot, local tradicional onde trabalhadores informais se oferecem para serviços diários. A presença policial motivou nova concentração de manifestantes. O gabinete do xerife confirmou o envio de agentes para o local face à escalada de tensão.

Os confrontos agravaram-se quando os manifestantes tentaram impedir a partida de um autocarro com detidos, atirando objetos às autoridades. Estas responderam com gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento.

Trump acusa autoridades locais e mobiliza tropas federais

A Casa Branca confirmou que Donald Trump assinou um memorando presidencial autorizando o envio de 2.000 membros da Guarda Nacional para o estado da Califórnia. A porta-voz Karoline Leavitt justificou a medida como uma resposta à “anarquia deixada prosperar” e culpou os líderes democratas da Califórnia por serem “incapazes” de gerir a situação.

Num comunicado publicado na rede Truth Social, Trump criticou diretamente o governador Gavin Newsom, a quem apelidou de “Newscum” – um trocadilho ofensivo com a palavra « scum », que significa « escória » em inglês –, e a presidente da câmara de Los Angeles, Karen Bass. “Se não conseguem fazer o seu trabalho, o governo federal vai intervir”, afirmou.

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O governador Gavin Newsom repudiou fortemente a ação presidencial, considerando-a “deliberadamente incendiária e apenas capaz de agravar ainda mais as tensões”. Reforçou que o estado está em coordenação estreita com as autoridades municipais e locais, acrescentando que “não existe, neste momento, nenhuma necessidade por satisfazer”.

Já Karen Bass classificou a decisão como “completamente desnecessária”, recordando que a cidade tem um histórico marcado por distúrbios civis de grande escala. “Se se quer repetir esse cenário, basta uma presença excessiva de tropas ou forças de segurança para agitar ainda mais a população”, advertiu em entrevista a um canal local da Fox.

A primeira mobilização deste tipo desde 1992

A decisão de um presidente americano de mobilizar a Guarda Nacional sem o aval do governador é inédita desde os motins de 1992. Na altura, o presidente George H. W. Bush invocou o Insurrection Act para restaurar a ordem em Los Angeles após a absolvição de quatro polícias brancos acusados de agredir brutalmente o automobilista afro-americano Rodney King.

Esses distúrbios duraram seis dias e causaram mais de 50 mortos, 2.300 feridos e cerca de 11.000 detenções, marcando profundamente a memória coletiva dos EUA.

A Guarda Nacional é a mais antiga força militar dos Estados Unidos, contando com cerca de 325.000 elementos, oriundos de todos os 50 estados, três territórios e do distrito de Columbia. Tem uma missão dupla: serve tanto o governo federal como os governos estaduais, estando geralmente sob o comando dos governadores.

No entanto, neste caso, Trump optou por federalizar a mobilização, ultrapassando a autoridade estadual. Em 2020, durante os protestos provocados pela morte de George Floyd, Trump também solicitou a mobilização da Guarda Nacional, mas dependia da aprovação dos governadores – vários recusaram.