O maior vigarista da história, Bernard Madoff, morreu na prisão

UNITED STATES - MARCH 10: Bernard Madoff, founder of Bernard L. Madoff Investment Securities LLC, leaves federal court in New York, U.S., on Tuesday, March 10, 2009. Madoff, 70, will plead guilty on March 12 that he directed a fraud that totaled as much as $64.8 billion, the largest Ponzi scheme in U.S. history, his lawyer Ira Sorkin said in a court hearing today. Madoff, free on $10 million bail, faces life imprisonment. (Photo by Jin Lee/Bloomberg via Getty Images)

O investidor e gestor de fortunas norte-americano Bernard Madoff morreu nesta quarta-feira na prisão onde cumpria uma pena de 150 anos pela montagem do maior esquema em pirâmide (Ponzi) da história dos Estados Unidos. Tinha 82 anos. Segundo a agência noticiosa Associated Press, terá morrido de causas naturais.

Madoff foi o autor confesso do maior esquema em pirâmide (ou Ponzi) da história financeira norte-americana, através do qual lesou dezenas de milhares de investidores, em 136 países durante quatro décadas e que, quando colapsou, gerou um “buraco” de 65 mil milhões de dólares (cerca de 54,5 mil milhões de euros ao câmbio actual). Desde então, os administradores de insolvência recuperaram mais de 13 mil milhões de dólares do total de 17,5 mil milhões que os seus clientes tinham investido no fundo de Madoff.

O esquema acabou denunciado – no auge da crise financeira de 2008 – pelos seus filhos e Madoff foi preso em Dezembro desse ano, tendo assumido a responsabilidade pela fraude em 2009, atribuindo o colapso aos efeitos das perdas bolsistas que se assistiram depois da queda do Lehman Brothers. Confessou ter praticado 11 crimes federais e foi condenado, três meses depois da detenção, a uma pena máxima de 150 anos e a uma indemnização de 170 mil milhões.

A fraude em pirâmide assumiu os contornos clássicos que foram celebrizados pelo empresário norte-americano Charles Ponzi, na década de 1920. Madoff recebia as poupanças dos seus clientes – entre os quais estavam milionários americanos, celebridades do desporto e do cinema, políticos – e não cumpria nenhuma das estratégias que lhes apresentava. Pelo contrário, depositava o dinheiro numa conta que usava para pagar a outros clientes, cujos investimentos chegavam ao fim ou eram resgatados. Quando rebentou, a “pirâmide” já tinha mais de 50 mil milhões de dólares “fictícios”.

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“Eu acreditei que isto [receber de uns para pagar a outros] iria ser uma solução de curto prazo, que poderia ser compensada assim que o mercado recuperasse”, explicou num email enviado da prisão em 2013. 

O caso de Bernard Madoff atingiu uma dimensão financeira, política e mediática que teve consequências não só na confiança dos investidores em Wall Street, já abalada pela crise bancária em curso, mas também na regulação dos mercados financeiros. Em particular, por ter revelado uma inesperada incapacidade de antecipar colapsos desta dimensão, apesar dos avisos que vinham sendo feitos desde o início da década.

Os supervisores, em particular a Securities Exchange Comission (SEC), estiveram na mira das críticas pelo benefício da dúvida que foi sendo dado ao gestor de fortunas, sempre que confrontado com suspeitas sobre a sua actuação. Num inquérito interno, uma equipa de investigadores denunciou a passividade da SEC, referindo mesmo que “sempre que Madoff dava respostas contraditórias ou evasivas a questões importantes, [os responsáveis da SEC] limitavam-se a aceitar como plausíveis a suas explicações”.

A actuação de Madoff foi paradigmática de um padrão de crimes a que se assistiu em todo o mundo durante a crise financeira de 2009. Perante a súbita perda de valor dos activos (acções, dívida e outros mais sofisticados) e a complexa estrutura de investimentos que assentava em posições suportadas em dívida sem garantias reais, os gestores de carteiras procuraram usar o dinheiro que lhes era entregue em confiança para pagar as responsabilidades assumidas anteriormente.

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