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Internacional/Ásia- Coreia do Sul Decide o Futuro Após Tentativa de Golpe: Uma Eleição Presidencial Marcada pela Crise e Esperança de Reconciliação

A destituição do presidente Yoon Suk-yeol, em abril de 2025, precipitou uma eleição presidencial extraordinária na Coreia do Sul. Eleito em 2022, o dirigente conservador, apelidado de “Trump coreano” pela imprensa, tentou instaurar a lei marcial a 3 de dezembro de 2024, mobilizando forças militares até à Assembleia Nacional para deter deputados. A tentativa de golpe fracassou poucas horas depois, travada pela resistência de parlamentares e manifestantes.

Suspenso das suas funções pelo Parlamento a 14 de dezembro, Yoon Suk-yeol foi oficialmente destituído a 4 de abril de 2025 pela decisão da Corte Constitucional, após três meses de julgamento. É a segunda vez na história moderna sul-coreana que um presidente em exercício é afastado do cargo — a primeira foi Park Geun-hye, em 2017. O fim abrupto do seu mandato deu início à corrida presidencial logo no início de maio, com uma campanha relâmpago de três semanas que revelou dois principais candidatos.

Lee Jae-myung, de 61 anos, lidera as intenções de voto. Antigo advogado, autarca e governador regional, é atualmente o chefe do Partido Democrático, de centro-esquerda. Perdeu por menos de 1% contra Yoon nas eleições de 2022, mas a sua popularidade cresceu com o protagonismo na resistência à imposição da lei marcial. O seu partido saiu vitorioso das legislativas de 2024.

Desta vez, Lee apresenta-se como um « conservador moderado », numa tentativa de conquistar eleitores desiludidos da direita. Abandonou promessas progressistas como o rendimento básico universal e procura unificar o país, mesmo à custa de parte da sua base histórica. As sondagens apontam para quase 50% das intenções de voto.

O seu adversário direto é Kim Moon-soo, de 73 anos, do partido conservador Poder ao Povo, o mesmo que sustentava Yoon. Ex-sindicalista e antigo ministro do Trabalho, Kim é conhecido pelas suas posições radicais e teorias conspirativas, incluindo acusações à China e à Coreia do Norte de manipulação política e eleitoral. Apesar da divisão interna no partido, os eleitores conservadores impulsionaram-no para cerca de 36% nas sondagens.

Ambos os candidatos focam-se na estabilização política após a crise que polarizou a sociedade. Cerca de 60% dos sul-coreanos apoiam a destituição de Yoon, mas uma parte significativa continua a defender a sua tentativa falhada de golpe como uma resposta legítima ao que consideram um Parlamento demasiado poderoso. Por isso, ambos propõem uma reforma constitucional para reequilibrar os poderes entre executivo e legislativo.

Um tema ausente nesta campanha é a igualdade de género. A Coreia do Sul ocupa o pior lugar da OCDE neste indicador e, embora todos os principais candidatos sejam homens, nenhum propôs medidas significativas para combater as desigualdades. Apenas Lee Jae-myung fez uma breve menção a « desvantagens estruturais » enfrentadas pelas mulheres.

Outro ponto crítico é a relação com os Estados Unidos, o maior aliado da Coreia do Sul. O futuro presidente terá de negociar com Donald Trump, novamente na Casa Branca, questões como tarifas alfandegárias sobre automóveis, aço e alumínio. Sem um governo estável desde dezembro de 2024, Seul perdeu margem para manobrar nas negociações comerciais.

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A geopolítica regional é igualmente central. Trump continuará a pressionar a Coreia do Sul a alinhar-se contra a China, ao mesmo tempo que pode tentar retomar o diálogo com Kim Jong-un. Os conservadores prometem uma aproximação clara a Washington, mesmo que isso prejudique as relações com Pequim. Já Lee Jae-myung defende uma abordagem equilibrada, mantendo laços com os dois gigantes e promovendo a distensão com o Norte.

A eleição realiza-se esta terça-feira, 3 de junho, em escrutínio uninominal maioritário a uma só volta. No estrangeiro, coreanos residentes em 118 países já votaram, com uma taxa de participação recorde de 79,5%. Desde quinta-feira passada, os eleitores em território nacional também puderam votar antecipadamente, para evitar sobrecargas nos locais de voto. Os resultados oficiais serão divulgados pouco depois do encerramento das urnas, às 18 horas.