A decisão do presidente francês, Emmanuel Macron, de reconhecer um Estado palestiniano provocou forte reação de Israel e dos Estados Unidos, ao mesmo tempo que reavivou a solução de dois Estados como eixo central dos esforços diplomáticos para pôr fim à guerra em Gaza.
Num carta dirigida ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na semana passada, Macron afirmou que “a nossa determinação em ver o povo palestiniano ter o seu próprio Estado está enraizada na convicção de que a paz duradoura é essencial para a segurança de Israel”.
O líder francês acrescentou que a posição da França “decorre da indignação perante a catástrofe humanitária em Gaza, que não tem justificação possível”. Israel declarou, na sexta-feira, a maior cidade do enclave como zona de combate, num momento em que o número de mortos já ultrapassa os 63 mil palestinianos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.
Ao lado da França, Reino Unido, Canadá, Austrália e Malta anunciaram que formalizarão o reconhecimento durante a Assembleia-Geral da ONU, a 23 de setembro. Outros países, como Nova Zelândia, Finlândia e Portugal, também estudam seguir o mesmo caminho.
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Comprar um espaço para minha empresa.Netanyahu rejeita veementemente a criação de um Estado palestiniano e promete ampliar a ofensiva militar em Gaza.
Reações duras de Israel e dos EUA
O primeiro-ministro israelita acusou Macron de “alimentar o fogo do antissemitismo” com o apelo ao reconhecimento da Palestina, comentário que o francês considerou “abjeto”.
Na mesma linha, o embaixador dos EUA em França, Charles Kushner, advertiu que gestos como este “encorajam extremistas, alimentam a violência e colocam em risco a vida de judeus em França”. A declaração levou o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês a convocar a embaixada americana em Paris.
Para analistas, estas reações provam que “os símbolos ainda importam”. O especialista em geopolítica Pascal Boniface afirmou que há “uma corrida contra o tempo” entre o caminho diplomático e a realidade no terreno em Gaza, que a cada dia torna a solução de dois Estados “mais difícil ou até impossível”.
Macron pede fim da ofensiva em Gaza
O presidente francês voltou a exortar Israel a parar a ofensiva no território sitiado, onde mais de 2 milhões de habitantes estão deslocados, bairros inteiros foram destruídos e uma fome generalizada foi declarada em Gaza City.
“A ocupação, a fome e o deslocamento forçado jamais trarão vitória a Israel. Pelo contrário, isolarão ainda mais o país e colocarão em risco as comunidades judaicas em todo o mundo”, advertiu Macron.
Hoje, mais de 140 países já reconhecem oficialmente o Estado palestiniano, num gesto em grande parte simbólico, mas que acrescenta pressão diplomática sobre Israel.
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O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noël Barrot, destacou que os esforços liderados por França e Arábia Saudita resultaram, pela primeira vez, numa condenação clara dos ataques do Hamas por parte dos 22 membros da Liga Árabe.
Na Declaração de Nova Iorque, aprovada em julho numa conferência na ONU, os países árabes afirmaram que “o Hamas deve terminar o seu domínio em Gaza e entregar as armas à Autoridade Palestiniana”.
Especialistas acreditam que esta via diplomática poderá fortalecer os palestinianos moderados, mostrando que o diálogo internacional traz resultados concretos. Para o analista político Muhammad Shehada, “o reconhecimento cria uma alternativa à violência, enviando a mensagem de que a via diplomática poderá conduzir a um Estado palestiniano”.
A Autoridade Palestiniana, no entanto, continua impopular entre os palestinianos, que a acusam de corrupção e de incapacidade de governar de forma eficaz.