Conflitos/Análise: Azerbaijão lança grande ofensiva no Nagorno-Karabakh

Thorniké Gordadzé, professor de Ciências Políticas, considera que a operação militar lançada na região surge numa altura em que o Azerbaijão se vê reforçado pela sua aliança com a Turquia e pela perda de influência da Rússia.

O Azerbaijão esperou três anos para lançar uma grande operação militar no Nagorno-Karabakh. Na terça-feira, 19 de setembro, Stepanakert e outras cidades da região foram alvo de “fogo intenso”, segundo as autoridades separatistas arménias, que afirmam que pelo menos duas pessoas já foram mortas. Uma decisão que visa o controlo total desta região, disputada há décadas entre o Azerbaijão e a Arménia, e que poderá provocar um novo êxodo, explica Thorniké Gordadzé, antigo ministro georgiano e atualmente professor de Ciências Políticas.

O Azerbaijão acaba de lançar uma operação militar no Nagorno-Karabakh, alguns meses depois de ter anunciado “progressos” nas conversações com a Arménia. Como é que se explica esta reviravolta?

O Azerbaijão aproveitou várias oportunidades. Com os progressos realizados no processo de negociação, sob a mediação da União Europeia (UE), o país apercebeu-se de que teria de fazer algumas concessões aos arménios. Baku sentiu que tinha chegado o momento de resolver o problema nos seus próprios termos – ou seja, a restauração da integridade territorial sem um estatuto de autonomia política para os arménios de Karabakh. O declínio da influência da Rússia na região e as crescentes tensões entre Yerevan e Moscovo também levaram a esta iniciativa do Azerbaijão, que acredita que os seus ganhos podem agora ser maximizados.

Será mesmo?

Se o Azerbaijão iniciou esta ofensiva, é porque a balança está a pender para o seu lado. A guerra de 2020 já demonstrou a sua superioridade militar, graças, nomeadamente, ao apoio da Turquia, de que Baku ainda hoje beneficia em termos de logística e de informações. O tandem turco-azerbaijano tornou-se ainda mais forte desde a guerra na Ucrânia. Por seu lado, a UE não pode romper completamente com o Azerbaijão, uma vez que está a recorrer a este país para compensar a falta de gás russo.

Que outros apoios tem o país?

Baku tem também acordos de defesa com Israel, com o qual partilha a desconfiança em relação a Teerão. O Estado hebreu vê no Azerbaijão um país interessante para vigiar de perto o Irão. Por seu lado, Baku e Teerão têm uma relação complicada, com o Irão a considerar o Azerbaijão como a sua província histórica, que tenta estabelecer a sua identidade nacional em oposição ao Irão.

O Azerbaijão também está a beneficiar do enfraquecimento da Arménia?

A Arménia está enfraquecida há muito tempo. As suas forças armadas sofreram pesadas perdas, com vários milhares de mortos, durante o conflito de 2020. Revelaram-se muito mais fracas do que as dos seus adversários. Demograficamente, o Azerbaijão tem quase quatro vezes a população da Arménia. Em termos económicos, o seu PIB per capita é quase dez vezes superior. Para não falar do facto de, em termos geopolíticos, Baku poder contar com alguns aliados de peso. A paridade já não existe há muito tempo.

Porque é que a Rússia não impediu esta nova operação militar?

A Rússia manteve-se passiva por várias razões. A sua influência na sua vizinhança e na cena internacional diminuiu desde o início da guerra na Ucrânia. A Rússia também não gosta muito do governo arménio e considera o primeiro-ministro Nikol Pachinian anti-russo. Yerevan, que dependeu de Moscovo durante trinta anos, apercebeu-se de que esta aposta era contraproducente e, desde 2020, tem procurado libertar-se desta dependência.

Em termos humanitáriosa, como é a vida de um habitante do Nagorno-Karabakh, que se encontra sob bloqueio há quase um ano?

Em 2020, quase um quarto da população deixou a região para se juntar à Arménia. Aqueles que não quiseram partir estão a viver numa situação difícil devido ao bloqueio imposto por Baku. Se o Azerbaijão conseguir conquistar novos territórios, haverá um novo êxodo. Porque se Baku ganhar, não estou a ver os arménios a ficarem no Nagorno-Karabakh.

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