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Internacional/Europa – Trumpismo à Europeia: Ascensão, Contradições e Limites da Influência de Donald Trump no Velho Continente

Em Varsóvia, no domingo, 1 de junho, Karol Nawrocki, nacionalista e candidato do partido Lei e Justiça (PiS), venceu por uma margem estreita a eleição presidencial polaca. Quase um mês antes do segundo turno, Nawrocki, praticamente desconhecido do grande público, procurou reforçar a sua imagem internacional ao encontrar-se com Donald Trump em Washington. Juntos no Salão Oval, os dois exibiram uma evidente cumplicidade, baseada em posições semelhantes contra a imigração e numa crítica feroz à União Europeia. Esta aliança simbólica destinava-se a tranquilizar um eleitorado conservador que valoriza a relação transatlântica, sobretudo no que diz respeito à defesa. A estratégia mostrou-se eficaz: Nawrocki beneficiou também do apoio do eleitorado de Slawomir Mentzen, o candidato de extrema-direita eliminado no primeiro turno, frequentemente apelidado de « Trump à moda polaca ».

Na Roménia, no entanto, o apoio de Trump não foi suficiente para levar George Simion à presidência. Conhecido por usar bonés vermelhos com o nome do ex-presidente americano, Simion tentou replicar o estilo trumpista com o movimento MEGA – Make Europe Great Again, uma adaptação europeia do slogan original MAGA. Durante a campanha para as eleições de 18 de maio, o líder do partido AUR, de extrema-direita, prometia « colocar os interesses da Roménia em primeiro lugar » e repetia o lema energético « Drill, baby, drill ». Apesar de ter ficado aquém da vitória, assustou os democratas ao obter mais de 40% dos votos no primeiro turno.

Já em fevereiro, foi também sob a bandeira do Make Europe Great Again que vários líderes populistas europeus se reuniram em Madrid: Santiago Abascal (VOX, Espanha), Viktor Orbán (Hungria), Marine Le Pen (França), Matteo Salvini (Itália) e Geert Wilders (Países Baixos). Apesar de unidos na oposição às instituições de Bruxelas e no desejo de promover uma « Europa das Nações », nem todos reivindicam abertamente uma filiação ideológica a Trump.

Uma exceção notória é o britânico Nigel Farage, rosto histórico do Brexit e aliado declarado de Trump desde 2016. Farage esteve ao lado do magnata americano durante a campanha presidencial e chegou mesmo a ser sugerido por Trump como embaixador britânico em Washington. Esse alinhamento rendeu-lhe frutos: nas eleições legislativas de 2024, o partido Reform UK, fundado e liderado por Farage, conquistou cinco assentos, uma conquista relevante no sistema eleitoral britânico.

De acordo com a politóloga Laëtitia Langlois, o trumpismo no Reino Unido continua a seduzir parte do eleitorado, especialmente aqueles que exigem medidas radicais contra a imigração. Contudo, desde o segundo mandato, a equipa de Trump parece inclinar-se mais por figuras como Tommy Robinson ou Andrew Tate, este último com ambições de se tornar primeiro-ministro. Até Elon Musk, aliado de Trump, sugeriu recentemente que Farage já não estaria à altura para liderar o partido Reform UK — um comentário que não impediu novas vitórias eleitorais do partido em eleições locais.

Na Europa Central, o empresário e ex-primeiro-ministro Andrej Babiš, da República Checa, também encarna um estilo político inspirado em Trump. Líder do movimento ANO e candidato à presidência em 2025, Babiš afirma que Trump é o único capaz de pôr fim à guerra na Ucrânia. Tal como o ex-presidente americano, defende o nacionalismo económico, ataca o « diktat verde » da UE e mostra desconfiança face aos média. Apesar de críticas pontuais às tarifas comerciais de Trump, mantém o seu apoio ao republicano.

Por outro lado, há exemplos onde a estratégia falhou. Na Albânia, Sali Berisha, ex-presidente e figura histórica da transição democrática do país, tentou um regresso com o apoio do estratega republicano Chris LaCivita. Apostando numa retórica fortemente pró-americana e desejando um “regresso à grandeza”, Berisha esperava capitalizar o seu passado e o modelo trumpista. Porém, a sua coligação obteve apenas 38% dos votos nas legislativas de 11 de maio, frente aos 52% do partido socialista de Edi Rama.

Exibir uma aliança com Trump pode ser uma jogada arriscada no contexto europeu, onde os sistemas eleitorais e as expectativas sociais diferem profundamente dos dos Estados Unidos. O politólogo Jean-Yves Camus, do Observatório das Radicalidades Políticas, alerta que essa estratégia parte de uma visão ilusória da democracia americana, onde se imagina que o « povo profundo » pode triunfar sobre as elites. Uma narrativa que ignora o papel central do dinheiro e do sistema eleitoral nas vitórias políticas nos EUA.

O estilo assertivo de Trump continua, no entanto, a inspirar. A sua capacidade de agir desde o primeiro dia do mandato encanta muitos eleitores europeus desiludidos com as classes políticas locais. Temas como a imigração, o antiwokismo, a rejeição das elites, o nacionalismo e o protecionismo mantêm um forte poder de atração, especialmente na Europa de Leste.

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Contudo, o trumpismo europeu revela contradições internas. Cada partido nacionalista defende os seus próprios interesses, que por vezes entram em choque direto, seja em matéria económica — como os direitos aduaneiros — ou em questões estratégicas.

Desde a reeleição de Trump, vários aliados europeus sentem-se desconfortáveis com certas posições do presidente americano, como a sua ambiguidade em relação à Ucrânia, a aproximação a Vladimir Putin ou o distanciamento da OTAN. O semanário Der Spiegel qualificava recentemente Trump como um « amigo embaraçoso » para os populistas europeus. O caso do holandês Geert Wilders ilustra bem este dilema: após uma vitória notável em 2023, viu a sua popularidade cair, em parte por causa das posições de Trump sobre a Rússia.

A figura de Marine Le Pen, que outrora demonstrava um apoio fervoroso ao ex-presidente americano, parece agora adotar uma postura mais cautelosa. Uma prudência que poderá tornar-se tendência entre os populistas europeus, diante de um aliado tão influente quanto imprevisível.