O chefe humanitário das Nações Unidas, Tom Fletcher, emitiu uma “indignação vergonhosa face à inação e apatia internacional” ao divulgar estatísticas sobre a morte de 383 trabalhadores humanitários no ano passado em todo o mundo, quase metade em Gaza.
No Dia Mundial Humanitário, celebrado na terça-feira, Fletcher destacou que as mortes aumentaram 31% em relação ao ano anterior, “impulsionadas pelos conflitos incessantes em Gaza, onde 181 trabalhadores humanitários foram mortos, e no Sudão, com 60 vítimas”.
“Mesmo um ataque contra um colega humanitário é um ataque contra todos nós e contra as pessoas que servimos”, afirmou Fletcher. “Ataques desta escala, sem responsabilização, são uma acusação vergonhosa à inação e apatia internacional”.
A ONU indicou que a maioria das vítimas eram trabalhadores locais, mortos enquanto desempenhavam funções ou em suas residências.
“Como comunidade humanitária, exigimos — novamente — que aqueles com poder e influência atuem em prol da humanidade, protejam civis e trabalhadores humanitários e responsabilizem os perpetradores”, disse Fletcher, subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários e Coordenador de Ajuda de Emergência.
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O Aid Worker Security Database, que compila relatórios da ONU desde 1997, revelou que o número de mortos subiu de 293 em 2023.
Dados provisórios até 14 de agosto de 2024 indicam 265 trabalhadores humanitários mortos.
Um dos ataques mais letais ocorreu na cidade de Rafah, sul de Gaza, quando tropas israelitas abriram fogo antes do amanhecer em 23 de março, matando 15 médicos e socorristas em veículos claramente identificados.
O exército israelita passou com bulldozers sobre os corpos e veículos de emergência, enterrando-os numa vala comum. Trabalhadores da ONU e socorristas só conseguiram chegar ao local uma semana depois.
A ONU reiterou que ataques contra trabalhadores humanitários violam o direito humanitário internacional e comprometem os serviços essenciais que sustentam milhões de pessoas presas em zonas de guerra e desastre.
“A violência contra trabalhadores humanitários não é inevitável. Deve terminar”, reforçou Fletcher.
Outras regiões
No Líbano, afetado por um conflito com o Hezbollah no ano passado, morreram 20 trabalhadores humanitários, comparados com nenhum em 2023.
Na Etiópia e na Síria, ocorreram 14 mortes em cada país, cerca do dobro em relação a 2023, enquanto a Ucrânia registou 13 trabalhadores mortos, mais que o dobro em relação ao ano anterior.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou mais de 800 ataques a unidades de saúde em 16 territórios, resultando em mais de 1.110 mortes de profissionais e pacientes, além de centenas de feridos.
“Cada ataque causa danos duradouros, priva comunidades de cuidados essenciais no momento em que mais precisam, põe em risco os prestadores de saúde e enfraquece sistemas já sobrecarregados”, destacou a OMS.
O Dia Mundial Humanitário assinala o dia em 2003 em que o chefe de direitos humanos da ONU, Sergio Vieira de Mello, e 21 outros humanitários foram mortos num atentado à sede da ONU em Bagdade, capital do Iraque.