No meio do dilúvio de soluções inovadoras que surgiram nos últimos anos para salvar o mundo da poluição por plástico, a solução de Tom Szaky pode ser uma das mais audaciosas.
Dito desta forma até pode parecer enganador, porque Szaky não tentou descobrir uma nova fórmula mágica que consegue biodegradar o plástico, uma meta que muitos dos empreendedores ainda tentam atingir. E também não criou novas formas para transformar as embalagens descartáveis de plástico em novas embalagens.
Em vez disso, Szaky preferiu usar métodos da velha guarda, com um conceito que data de finais do século passado – recipientes retornáveis e reutilizáveis. Esta ideia foi apresentada ao mundo pela Coca-Cola no início dos anos 1920, quando a bebida era vendida em dispendiosas garrafas de vidro que a empresa precisava de reutilizar. E cobravam um depósito de 2 centavos, aproximadamente 40% do custo total do refrigerante, recuperando assim 98% das garrafas que eram depois reutilizadas cerca de 40 ou 50 vezes. Os programas de depósito de garrafas continuam a ser um dos métodos mais eficazes de sempre na recuperação de embalagens.
Regresso ao futuro
Para além do lado económico, muitas das soluções que podem reduzir o lixo plástico são afretadas por diversos problemas: desafios técnicos por resolver, desinformação e falta de padrões de uniformidade que acabam por confundir os consumidores. Os biodegradáveis geralmente não são biodegradáveis, sobretudo nos oceanos, onde têm ainda mais propensão para se desintegrarem em microplásticos. A maioria das compostagens precisa de calor extremamente elevado para se decompor, exigindo processamento em centros industriais de compostagem. Por exemplo, nos aterros, o material compostável não é biodegradável. Estes dois termos são frequentemente usados de forma semelhante pelos consumidores, mas são coisas diferentes. O material rotulado como biodegradável, se for adicionado a esta mistura, pode contaminar o material compostável.
A reciclagem mecânica, que envolve a trituração do lixo plástico em pequenos pedaços que são derretidos e transformados em novos plásticos, também é facilmente contaminada por tipos incompatíveis de plástico, pela sujidade e pelos resíduos dos alimentos. Os plásticos reprocessados por este método só podem ser reciclados um determinado número de vezes, antes de perderem a sua resistência e outras características.
A reciclagem química, que devolve ao plástico as moléculas necessárias, alivia muitos destes problemas. Os analistas da indústria consideram esta a opção mais promissora e o número de empresas envolvidas no desenvolvimento de reciclagem química está a aumentar. Mas os riscos são elevados. O processo é dispendioso e ainda existem dúvidas sobre se o seu crescimento consegue atingir uma dimensão capaz de fazer a diferença.
De qualquer forma, ambos os métodos de reciclagem, incluindo a compostagem, dependem do que continua a ser o componente mais disfuncional no manuseio do lixo plástico: alguém precisa de recolher e separar tudo.
A Loop foi lançada em maio de 2019 em Nova Iorque e Paris. A empresa tem planos para se expandir para o Reino Unido, Toronto e Tóquio ainda este ano, e para a Alemanha e Austrália em 2021. A sua linha de produtos, diz Szaky, cresce uma ou duas vezes por semana, e a empresa consegue novos retalhistas cerca de uma vez por mês. Mas como os hábitos dos consumidores são muito difíceis de mudar, Szaky acredita que o negócio de reutilização e recarregamento deve estar o mais próximo possível da experiência normal de compra. A empresa também fez parceria com a Walgreens e a Kroger para criar corredores destinados aos recarregáveis, semelhantes aos corredores dos alimentos a granel, ajudando assim no fator conveniência.
Os detalhes técnicos do manuseio de lixo plástico serão eventualmente ultrapassados, mas os consumidores podem vir a tornar-se no maior desafio. O plástico como material não é o vilão, mas sim a forma como é usado, diz Szaky, e a ideia do plástico descartável é um conceito que já tem 70 anos.
Tom Szaky coloca uma pergunta retórica: “O que é que nós enquanto consumidores queremos? Conveniência, baixo custo e desempenho. Nenhuma destas coisas envolve sustentabilidade.”
E também diz que os consumidores desempenham um papel fundamental na resolução deste problema do plástico, porque são os hábitos de consumo que podem obrigar a indústria a mudar.
“Nós suportamos isto cegamente, dia após dia, com o nosso dinheiro, dizendo às empresas o que queremos; mas precisamos de encarar o assunto com seriedade”, diz Szaky. “Devíamos comprar menos e assegurarmo-nos de que as coisas que compramos são reutilizáveis.”