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Moçambique/Sociedade: ONU alerta para a vulnerabilidade que alimenta o tráfico de pessoas em Cabo Delgado

Pobreza, medo e impunidade criam terreno fértil para redes de tráfico humano numa província marcada por deslocações forçadas e violência extremista desde 2017.

Maputo, Moçambique — 29 de Julho de 2025

A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou esta segunda-feira para a « vulnerabilidade estrutural » existente na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, que favorece o tráfico de pessoas, consequência direta dos ataques extremistas que assolam a região desde 2017.

« Em Moçambique, só na região norte, cerca de um milhão de pessoas foram deslocadas devido à violência extrema. Estas comunidades enfrentam uma vulnerabilidade estrutural que é, infelizmente, fértil para redes de tráfico [de pessoas] », afirmou António de Vivo, chefe da missão dos Escritórios das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) no país, durante o Fórum Académico sobre o Tráfico de Pessoas, realizado em antecipação ao Dia Internacional de Luta contra o Tráfico de Pessoas, que se celebra a 30 de julho.

De acordo com o responsável, o tráfico humano não é apenas um problema legal, mas sim uma questão social, cultural, institucional e profundamente humana, sendo a pobreza e o medo fatores catalisadores deste crime.

« O que torna este crime ainda mais doloroso é que, muitas vezes, ele ocorre diante dos nossos olhos, silenciado pelo medo, pela pobreza, pelo estigma e pela impunidade« , lamentou.

Para António de Vivo, o tráfico de pessoas é « mais do que um crime, é uma violação gritante da dignidade humana« , que destrói vidas, sonhos e famílias inteiras.

O representante das Nações Unidas garantiu apoio institucional ao Governo moçambicano, com a implementação de « ações estratégicas » para fortalecer a capacidade técnica e operacional das entidades envolvidas no combate a este crime transnacional.

Ministério Público alerta para sofisticação das redes criminosas

Durante o mesmo fórum, a Procuradoria-Geral da República (PGR) reforçou a necessidade de formação especializada para profissionais envolvidos na prevenção e repressão do tráfico humano.

A procuradora-geral adjunta, Amabélia Chuquela, sublinhou que as redes criminosas utilizam cada vez mais plataformas digitais para recrutar vítimas, tornando o seu rastreio e identificação mais difíceis.

« As redes de tráfico organizado lucram com a exploração das vítimas, que são atualmente recrutadas de várias formas, incluindo através de plataformas digitais« , declarou.

O Ministério Público apelou à atuação conjunta das instituições académicas, do Estado e da sociedade civil, destacando que só uma estratégia coletiva poderá travar o avanço deste fenómeno.

Nos primeiros seis meses de 2025, foram registados cinco processos de tráfico interno de pessoas para fins de exploração sexual e laboral nas províncias de Maputo, Niassa, Tete e Sofala.

Além disso, dois processos com ligações internacionais estão a decorrer no Gabinete Central de Combate à Criminalidade Organizada e Transnacional.

Em 3 de junho, Amabélia Chuquela já tinha reconhecido as dificuldades de investigação destes crimes, devido à crescente « sofisticação » do modus operandi das redes criminosas que operam no país.

Violência extremista em crescimento

Segundo um relatório do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), 349 pessoas foram mortas em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique em 2024, representando um aumento de 36% face a 2023.

O estudo, divulgado em fevereiro, destaca que esta “recuperação dos níveis de violência” reflete a estratégia do grupo ASWJ, afiliado do Estado Islâmico, que procura expandir o conflito para o interior e zonas rurais da província de Cabo Delgado.

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