Mundial de 2034: Arábia Saudita no horizonte

Ao atribuir um jogo da fase de grupos ao Paraguai, à Argentina e ao Uruguai para o Campeonato do Mundo de 2030, a FIFA teve o cuidado de excluir a CONMEBOL da organização do Campeonato do Mundo de 2034. A FIFA assegurou assim que nenhum obstáculo se opõe à realização do Campeonato do Mundo de 2034 na Arábia Saudita.

É pouco provável que os nomes Kanya Leomany, Razvan Burleanu, Pedro Chaluja ou Datuk Haji Hamidin Bin Haji Mohd Amin lhe digam alguma coisa.No entanto, estas pessoas fazem parte do comité que, a 4 de outubro, decidiu que apenas uma candidatura seria selecionada para organizar o Campeonato do Mundo de 2030: a de Espanha, Portugal e Marrocos.Este comité é o “Conselho da FIFA”, o antigo Comité Executivo de Sepp Blatter, que foi revisto por Gianni Infantino após a sua eleição como presidente do organismo com sede em Zurique, em 2016.

Como as regras do jogo devem ser respeitadas na forma, se não no espírito, caberá ao próximo Congresso da FIFA, em 2024, ratificar a decisão (tomada por unanimidade, escusado será dizer) do Conselho de Ministros de Infantino.As 211 federações filiadas na FIFA não deverão adiar demasiado, uma vez que só haverá uma caixa para assinalar, o que se está a tornar um hábito na FIFA, cujo presidente já foi reeleito duas vezes por aclamação, sem oposição declarada.

Tanto para 2030, mas também para 2034.Ao oferecer um jogo da fase de grupos ao Paraguai, à Argentina e ao Uruguai (*), o Conselho da FIFA não só deu um prémio de consolação aos sul-americanos, como também comemorou os 100 anos desde que o francês Lucien Laurent marcou o primeiro golo num Campeonato do Mundo, em Montevideu. Este gesto simbólico teve ainda a vantagem de excluir a confederação a que pertencem estes três países, a CONMEBOL, de uma eventual candidatura à organização do torneio de 2034. Esta medida é exigida pelo princípio da rotação continental que a FIFA adopta há muito tempo.


Com a CONCACAF a assumir a organização da competição em 2026 e a impossibilidade de a UEFA e a CAF organizarem dois Campeonatos do Mundo consecutivos, isto significa – como o comunicado de imprensa da FIFA teve o cuidado de especificar de forma inequívoca – que apenas a OFC (Oceânia) e a AFC (Ásia) poderão candidatar-se à organização do Campeonato do Mundo de 2034. As federações que quisessem candidatar-se tinham… vinte e cinco dias para o fazer.

A operação não foi cosida com linha branca, mas com corda de amarração. Tratava-se de abrir de par em par a porta atrás da qual a Arábia Saudita estava acampada há muito tempo.De facto, os sauditas apresentaram-se imediatamente como candidatos e as suas tropas auxiliares não perderam tempo a dar o seu apoio. O primeiro foi o presidente da federação do Djibuti, Suleiman Waberi, um dos mais fiéis apoiantes de Gianni Infantino em África. O Qatar, o Kuwait e o Bahrein seguiram imediatamente o exemplo. Depois vieram o Paquistão, a Nigéria, a Síria, o Bangladesh, as Maldivas e até o Panamá!

Já aqui foi explicado como a Arábia Saudita lançou uma ofensiva diplomática sem precedentes nos últimos dois anos junto de federações e confederações dispostas a ouvir os seus argumentos, assinando mais de quarenta acordos bilaterais de cooperação, os mais significativos dos quais foram assinados com as confederações de África e da Oceânia, que no seu conjunto têm sessenta e cinco votos no Congresso da FIFA. O processo não é novo, mas nunca foi explorado com tanto vigor e continuidade de ideias, ou melhor, de uma ideia fixa, que é a de estabelecer a Arábia Saudita como um país líder no futebol.

É a contrapartida diplomática das centenas de milhões gastos para transformar a liga saudita numa competição que tem por objetivo impor o seu domínio sobre o futebol asiático e, depois, intercontinental. Fá-lo-á através de um Campeonato do Mundo de Clubes da FIFA alargado a trinta e dois clubes, incluindo quatro da Ásia, a partir de 2025. É este o desejo de Gianni Infantino. É também o desejo dos sauditas. E não é a primeira nem a última vez que os desejos – e os interesses – de uns se alinham com os dos outros, e vice-versa.

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