Gloria Steinem, no seu livro Ma vie sur la route: Mémoires d’une icône féministe, recorda-nos que viajar é, acima de tudo, um estado de espírito. “You can travel without traveling and you can not travel, yet travel. Being on a road is a state of mind.” Em português, podemos traduzir: “Podemos viajar sem viajar e podemos não viajar, mas ainda assim viajar. Estar na estrada é um estado de espírito.”
A mensagem é clara. É preciso abrir os olhos para o que nos rodeia, interagir espontaneamente com o desconhecido e desligar-se das distrações impostas pelo mundo moderno, como o telemóvel e o isolamento nas grandes cidades. Nesse contexto, emergem espaços que oferecem um estilo de vida alternativo, verdadeiros oásis para aqueles que buscam desconexão e reconexão consigo mesmos.
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Comprar um espaço para minha empresa.Auroville, fundada em 1968 no coração do Tamil Nadu, na Índia, é um exemplo pioneiro. Idealizada por Mirra Alfassa, conhecida como La Mère, a comunidade surgiu em plena era dos movimentos contraculturais. Meio século depois, mais de 2 500 pessoas de 52 países diferentes vivem ali, ao redor do centro espiritual Matrimandir, um símbolo de unidade e introspecção. Em Auroville, a propriedade privada não existe. Todos trabalham para o bem comum e a comunidade prospera como um refúgio para os neoyogis, praticantes modernos de ioga e espiritualidade.
Outro exemplo de utopia moderna é Arcosanti, nascida da mente visionária do arquiteto Paolo Soleri nos anos 1970, no meio do deserto do Arizona. Soleri fundou Arcosanti com base nos princípios da arcologia – a fusão entre arquitetura e ecologia. A cidade, ainda em construção, abriga hoje cerca de 80 residentes e recebe artistas em residência. Entre anfiteatros, cafés e estufas aquecidas a energia solar, a arquitetura desempenha um papel central na conexão entre os habitantes e a natureza. Jeff Stein, presidente da fundação Arcosanti, explica que a intenção é criar um ambiente onde o entretenimento e o convívio social substituam o isolamento e o consumo passivo de conteúdos audiovisuais.
Na Europa, um conceito semelhante surgiu em Bordéus, no início dos anos 2000. Darwin, um microcosmo urbano localizado às margens do rio Garonne, reúne num mesmo espaço um restaurante orgânico, um coffee shop, um skatepark, salas de aula, espaços de coworking e até uma pequena quinta. Os fundadores defendem que Darwin é um espaço multidimensional que pretende sensibilizar para a urgência de repensar o modelo de sociedade, reduzindo drasticamente o consumo de recursos materiais e energéticos.
No norte da Escócia, a comunidade de Findhorn segue a mesma linha ecológica. Criada por Dorothy Maclean, Peter e Eileen Caddy, a vila acolhe hoje cerca de 400 pessoas, unidas pela intenção de desenvolver projetos sustentáveis de pequena e média escala, priorizando a agricultura ecológica e o uso consciente dos recursos naturais.
A onda de comunidades alternativas eco-friendly também se estende ao universo dos festivais. O Great Wide Open Festival, realizado recentemente na ilha holandesa de Vlieland, é um exemplo de evento focado em práticas sustentáveis e em fomentar um sentimento de pertença entre os participantes.
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Comprar um espaço para minha empresa.No sector hoteleiro, a tendência de criar espaços de conexão comunitária e experiências significativas não passou despercebida. A cadeia Soho House, por exemplo, abre as suas portas exclusivamente para criativos. Já o grupo Habitas, com hotéis em Tulum, Marrocos e Chile, desenvolve espaços que incentivam a interação entre os hóspedes através de atividades culturais, desportivas e criativas. Os fundadores sublinham que o verdadeiro luxo não é o conforto tradicional, mas sim viver experiências que realmente tenham significado.
No mundo hiperconectado e consumista, estas comunidades e projetos propõem um novo modelo de vida. A questão é: estarão estas utopias a reinventar o sistema ou apenas a criar ilhas de desconexão num oceano de hiperatividade?