Três humoristas estrangeiros foram impedidos de entrar em Moçambique no domingo, após o Serviço Nacional de Migração (Senami) detetar que os mesmos tentavam aceder ao país com visto de turismo, apesar de virem realizar um espetáculo pago.
O diretor-geral do Senami, Zainedine Danane, explicou que a entrada foi recusada por não terem respeitado os critérios exigidos para atividades culturais remuneradas. “Vieram ao país mas não obedeceram aos critérios pelos quais eles vinham. Porque eles vinham para dar um espetáculo, um show. É uma atividade cultural”, afirmou Danane à margem da cerimónia que marcou os 50 anos do Senami, em Maputo.
Os humoristas — Gilmário Vemba (Angola), Hugo Sousa (Portugal), Murilo Couto (Brasil), acompanhados de um produtor português — chegaram no domingo ao Aeroporto Internacional de Maputo. O grupo pretendia entrar com visto de turismo, emitido na fronteira, mas que, segundo a legislação em vigor desde 2023, não é válido para atividades remuneradas.
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Comprar um espaço para minha empresa.O Senami detetou essa incompatibilidade durante a verificação documental, o que levou à recusa de entrada. O grupo regressou ao exterior na manhã seguinte, num voo da TAP.
Segundo fontes da produção, o espetáculo cancelado fazia parte da digressão “Tons de Comédia” e estava previsto para as 17h de domingo, no Centro Cultural China Moçambique, com lotação esgotada.
Através de uma transmissão ao vivo no Instagram, Gilmário Vemba comunicou o cancelamento do evento e prometeu o reembolso dos bilhetes, lamentando a situação. Disse que esperavam autorização de entrada desde as 14h, sem informação concreta sobre o motivo da retenção.
Zainedine Danane sublinhou que o promotor local não solicitou a credencial obrigatória para atividades culturais, documento necessário para emissão de visto adequado. “Não tendo solicitado esta credencial, é como se esta atividade não existisse. E como é que vais proferir um espetáculo se quem devia autorizar não tem conhecimento?”, questionou, referindo-se à alteração da lei de migração em 2022.
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Anuncie aqui: clique já!Apesar deste incidente, Gilmário Vemba já havia atuado anteriormente em Moçambique sem qualquer problema.
O caso ganhou contornos políticos após Dinis Tivane, assessor do político moçambicano Venâncio Mondlane, afirmar nas redes sociais que Gilmário foi “impedido de entrar em Moçambique por expor as suas opiniões”. Tivane lembrou que, em 8 de julho, Vemba e Mondlane se encontraram em Lisboa, exaltando a expressão “Anamalala” — em língua macua, significa “vai acabar” —, popularizada durante os protestos pós-eleitorais convocados por Mondlane.
Desde as eleições de outubro de 2024, que declararam vitória para Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, Moçambique registou fortes agitações sociais, manifestações e confrontos que resultaram, segundo ONGs, em cerca de 400 mortos. Os conflitos cessaram após encontros entre Chapo e Mondlane, em março e maio, com vista à pacificação nacional.