Angola tem vindo a conhecer um aumento do preço dos bens essenciais nestes últimos meses. De acordo com dados oficiais divulgados, a inflação subiu em Junho para 11,25%, o que marca uma aceleração de 0,57 pontos percentuais em relação ao mesmo período no ano passado, com o pelouro dos transportes e da saúde a pesar mais no bolso dos angolanos.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), Luanda lidera a lista de províncias com maior variação de preços, com 1,69%, seguida da Lunda Norte (1,50%) e Namibe (1,35%), sendo que esta entidade refere ainda que entre as 12 classes de consumo, a do transporte registou o maior aumento de preços, com uma variação de 2,71%, sendo seguida pelo pelouro da saúde (2,08%), do vestuário e do calçado (1,53%) e da alimentação e bebidas não alcoólicas (1,46%).
Ao comentar estes dados, Carlos Rosado, economista ligado à Universidade Católica de Luanda, considera que eles estão aquém da realidade. « A taxa de inflação divulgada pelo instituto Nacional de Estatística, parece-me que está muito subavaliada. Eu tenho muitas dúvidas sobre esta taxa. O Instituto Nacional de Estatística dá uma taxa de inflação mensal de 1,4% e dá na classe da alimentação e das bebidas não alcoólicas -que é a principal classe do cabaz de consumo angolano, representa cerca de 56% – o INE dá um aumento de preços de 1,6%. Quem faz compras aqui em Angola e particularmente em Luanda percebe que esta taxa é muito baixa. Em Junho, os preços tiveram aumentos brutais de 20, 30, 40%. Portanto, duvido muito desta taxa do INE », diz o economista.
Para justificar que a inflação « foi muito superior« , Carlos Rosado refere que « nós tivemos, por um lado, a desvalorização do Kwanza. Desde Maio, a desvalorização já vai em cerca de 40% e em Angola, muitos dos produtos que consumimos são importados. Portanto, esses produtos tornaram-se mais caros em Kwanzas. Por outro lado, nós tivemos o aumento da gasolina, um aumento de quase 100% na sequência do início do processo de retirada gradual dos subsídios ao combustível ».
Quanto à eventualidade desta situação vira ainda a piorar, o economista mostra-se pouco optimista. « Eu acredito que a inflação vai continuar a subir nos próximos meses. Mesmo praticamente sem desvalorização e sem aumentos dos combustíveis, a inflação já teve uma inflexão em Maio. Depois de muitos meses a descer, a inflação anual teve ali uma ligeira inflexão em Maio e esta inflexão em Junho e eu acredito que a inflação vá acelerar ainda mais », considera o estudioso.
Refira-se ainda que foi neste contexto de crise que tem levado a população a descer à rua para protestar contra o aumento do custo de vida, que o Presidente angolano exonerou das suas funções de Ministro da Indústria e Comércio Vítor Fernandes que passou a ser substituído por Rui Miguéns de Oliveira, antigo vice-presidente do Banco Nacional de Angola.