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Desporto/Basquetebol-NBA 2025: O triunfo do coletivo sobre os milhões

Dois dos mercados mais pequenos da NBA estão nas finais: os Oklahoma City Thunder e os Indiana Pacers provam que milhões não são tudo no campeonato de basquetebol mais prestigiado do mundo.

Um dado resume bem a situação: o luxury tax – imposto aplicado para penalizar as equipas que ultrapassam o teto salarial – foi introduzido na NBA em 2003. Pela primeira vez, duas equipas nunca penalizadas por esse imposto irão enfrentar-se numa final: Thunder e Pacers.

É um ponto de viragem. É verdade que já houve campeões que evitaram esse encargo (como os Warriors em 2015 e 2017, ou os Lakers em 2020), mas nos últimos anos os montantes explodiram. Curiosamente, o teto salarial nunca foi tão alto como na última década, mas isso não impediu as franquias de se atolarem em multas.

Nesta temporada, 11 equipas pagaram o luxury tax – um recorde. E a que mais gastou foi… os Phoenix Suns, com mais de 150 milhões de dólares em penalizações. Um montante astronómico, especialmente considerando que nem sequer se qualificaram para os playoffs. Ainda assim, essa escalada parece lógica numa era dominada por superteams.

Mas entre as 10 equipas que mais gastaram com luxury tax desde a sua criação, quatro continuam sem título: Clippers, Knicks, Nets e Suns. As três primeiras estão sediadas nos dois maiores mercados da liga – Nova Iorque e Los Angeles – e figuram entre as oito franquias com maior valor de mercado. Mais uma prova de que dinheiro não compra sucesso.

OKC (3,65 mil milhões) e Indiana (3,6 mil milhões) ocupam a 21ª e 22ª posições, respetivamente. Dois dos mercados mais pequenos da NBA, localizados em cidades com menos de um milhão de habitantes e afastadas da costa. Estados considerados do « interior », e que na temporada passada estavam entre as oito piores médias de público (com os Pacers no penúltimo lugar).

Como é que estas duas cidades, pouco atrativas para agentes livres, chegaram à final? Fazendo aquilo que qualquer direção deveria fazer: pensar. E, sobretudo, assumir riscos em trocas inteligentes para construir à volta de uma estrela em ascensão.

Quando, em 2022, Indiana trocou Domantas Sabonis por Tyrese Haliburton, muitos gritaram loucura. Não pelo talento do base – já apontado como promissor – mas porque estavam a ceder aos Kings um dos cinco melhores postes da NBA. Três anos depois, os Pacers estão na final, Sacramento continua no meio da tabela, e já ninguém questiona a troca.

No caso dos Thunder, a história é ainda mais célebre: em 2019, OKC trocou Paul George (então em 3.º na corrida a MVP) com os Clippers por uma montanha de escolhas de draft. O mais importante? Obteve Shai Gilgeous-Alexander, um rookie promissor que se esperava que se tornasse estrela, mas que se revelou um verdadeiro MVP. Um dos maiores exemplos de uma troca em que quem ganhou não foi o favorito do momento, já que os Clippers nunca passaram de uma final de conferência.

A gestão de cada franquia centrou-se nestas duas joias para construir equipas coesas, com decisões bem pensadas e um foco claro na complementaridade dos jogadores. O desenvolvimento dos jovens foi um êxito para ambas: Jalen Williams tornou-se All-Star em OKC; Cason Wallace, Andrew Nembhard, Aaron Nesmith, entre outros, assumem papéis cruciais nas respetivas equipas. Trabalho bem feito.

E esse trabalho permitiu correr riscos. Indiana apostou em Pascal Siakam, um veterano já campeão, para trazer experiência de playoffs. Apesar do salário elevado, a aposta compensou: foi eleito MVP da final de conferência.

OKC, por sua vez, precisava de robustez. Apostou forte em Isaiah Hartenstein, uma escolha que pareceu exagerada pelos números discretos, mas cuja contribuição vai além das estatísticas. Dois exemplos de aquisições que procuram complementar o coletivo em vez de apenas somar nomes de peso.

A aposta no olhar atento e na reflexão não morreu: as equipas arriscaram, sacrificaram talentos promissores (como Josh Giddey, trocado por Alex Caruso nos Thunder, ou Buddy Hield, dispensado pelos Pacers para dar espaço aos jovens). Todas as decisões foram tomadas em nome do coletivo.

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Duas jovens estrelas capazes de unir uma equipa.
Dois líderes que personificam uma filosofia que contrasta com a tendência atual: juntar estrelas a qualquer custo. Muitos dirigentes não conseguem inverter a lógica de poder dentro das equipas e, com receio de perder a sua principal figura, acumulam estrelas numa tentativa de agradar – mesmo que isso não funcione.

Phoenix é o melhor exemplo, com o trio Devin Booker – Kevin Durant – Bradley Beal, mas há mais: Westbrook – George – Anthony em OKC ou Durant – Harden – Irving nos Nets foram fracassos recentes de modelos semelhantes.

A NBA tem endurecido as sanções aos proprietários que desrespeitam as regras salariais – como a perda de escolhas de draft – mas será suficiente para evitar desequilíbrios?

Provavelmente não. A NBA adora estrelas e grandes mercados. Mas o sucesso de Thunder e Pacers é um sinal claro para quem acredita que o dinheiro compra títulos: uma equipa bem construída, coesa nos dois lados do campo e com um líder que eleva o jogo, isso é uma verdadeira equipa. E, até prova em contrário, o basquetebol continua a ser um desporto coletivo.

Talvez a melhor notícia possível para os verdadeiros apaixonados pela bola laranja e pela essência da NBA.