Após um ataque com drone à frota russa no Mar Negro na manhã de sábado, Moscovo anunciou a suspensão da sua participação no acordo de exportação de cereais ucraniano, suscitando receios de uma nova crise alimentar mundial.
« O acordo de cereais, que as autoridades russas e ucranianas assinaram separadamente com a Turquia em Julho, foi, juntamente com a troca de prisioneiros, o único assunto sobre o qual Moscovo e Kiev tinham conseguido chegar a acordo » desde a invasão da Ucrânia, observa El País.
O seu futuro está agora em perigo depois do Kremlin ter decidido no sábado 29 de Outubro suspender a sua participação « indefinidamente » em retaliação aos ataques com drones contra a sua frota em Sevastopol, que atribui às forças ucranianas e britânicas, relata a agência Tass.
De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, citado pela agência russa, os ucranianos « utilizaram o corredor humanitário criado ao abrigo do acordo de cereais como cobertura » para levar a cabo o seu ataque « maciço » aos navios russos – uma acusação negada por Kiev e Londres.
Crise alimentar
O acordo de cereais da ONU « é essencial para aliviar a crise alimentar global causada pelo conflito », disse a Al Jazeera. Até à data, tem facilitado « a exportação de mais de 9 milhões de toneladas de cereais ucranianos », disse o canal.
Segundo a ONU, as exportações ao abrigo do acordo « ajudaram a baixar os preços dos alimentos e a evitar uma crise de fome global », escreve o The New York Times.
Segundo o pacto, « pilotos ucranianos guiam os navios pelos campos minados » deixados pelas forças ucranianas nos portos do Mar Negro, antes de « a marinha russa proporcionar uma passagem segura para a Turquia, onde equipas compostas por representantes dos três países inspeccionam as cargas antes de chegarem ao seu destino », explica o diário nova-iorquino.
O Presidente dos EUA Joe Biden chamou « ultrajante » à decisão da Rússia, enquanto o seu Conselho de Segurança Nacional acusou Moscovo de utilizar « alimentos como arma ». O gabinete do Secretário-Geral da ONU exortou as partes « a evitar qualquer acção que possa pôr em risco o acordo sobre os cereais, o que constitui um esforço humanitário vital ».
Consequências imediatas
Segundo o perito em política alimentar David Laborde, entrevistado pelo The Daily Telegraph, a decisão da Rússia terá consequências imediatas: « Os preços do trigo poderão subir 10% quando os mercados abrirem na segunda-feira, e os efeitos da decisão serão sentidos durante meses, a nível mundial », diz ele.
O Washington Post salienta que o Kremlin tem vindo a fazer um sopro quente e frio no negócio nas últimas semanas. « As negociações sobre uma prorrogação do pacto [a ser renovado a 19 de Novembro] foram tensas mesmo antes do ataque aos navios », com Moscovo « a queixar-se incessantemente dos termos da sua implementação », escreve o diário.
O próprio Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou no seu discurso diário de sábado que « a Rússia agravou deliberadamente a crise alimentar já em Setembro, ao bloquear o movimento dos navios » que transportavam cereais, que por vezes tinham de esperar « mais de três semanas » para poderem navegar, relata The Kyiv Independent.