Rússia: A morte de Prigozhin assinala “o fim do grupo Wagner tal como o conhecemos”.

A morte do chefe do grupo paramilitar russo levanta a questão da sua substituição e do futuro de Wagner em África.

Era o líder carismático e temível dos mercenários russos do grupo Wagner. Yevgeny Prigozhin era um dos dez passageiros a bordo de um avião que se despenhou na quarta-feira, quando tentava voar de Moscovo para São Petersburgo. Todas as atenções estão viradas para o Kremlin, uma vez que esta presumível morte tem ares de vingança de Putin, poucos meses após a tentativa de motim. Vladimir Putin elogiou um homem “talentoso” mas que cometeu “erros”, prometendo uma investigação “conduzida até ao fim”. Mas há outra questão: o que será feito do grupo privado, agora órfão do seu chefe emblemático, o seu cofundador, Dmitri Outkine, e de Valery Chekalov, o seu diretor de logística, que também se encontravam no avião que se despenhou?

Um califa no lugar do califa

Nesta fase, sem qualquer anúncio do Kremlin desde o anúncio do desaparecimento do sulfuroso Yevgeny Prigozhin, todas as hipóteses são possíveis. Há a da substituição do líder por outro líder. Um novo califa para substituir aquele que estava a ocupar demasiado espaço nos meios de comunicação social. Mas o carácter de Yevgeny Prigozhin é, sem dúvida, insubstituível. “Era o rosto de Wagner, graças à sua encenação de Bakhmut, com os seus homens em trajes militares, e tinha-se tornado carismático mesmo fora das fileiras de Wagner”, sublinha Isabelle Dufour, directora de Estudos Estratégicos do Eurocrise. “Adquiriu popularidade e credibilidade junto dos militares russos, tendo em conta o que se passava no terreno”, acrescenta.

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Além disso, a única conquista militar na Ucrânia desde a recaptura de Kherson pelos soldados ucranianos foi russa, e a maior parte foi obra de Wagner. Até Vladimir Putin reconhece que as vítimas do acidente de avião de Wagner deram um “contributo significativo” para a Ucrânia. A influência de Yevgeny Prigozhin e a imagem do seu grupo implacável, extremista e formidável atraíram novos recrutas.

Será difícil encontrar um novo líder com este tipo de talento. “Não vejo quem o possa substituir, porque Yevgeny Prigozhin construiu uma imagem que é o oposto da de Vladimir Putin, que é mais frio e mais desligado das operações no terreno. Não há equivalente”, diz Isabelle Dufour. Mas talvez não seja isso que estamos à procura? Não seria do interesse de Vladimir Putin escolher um líder menos encantador mas mais fiel ao Kremlin?

O fim de Wagner tal como o conhecemos

A segunda solução consiste em mudar tudo, mantendo o essencial. Porque o grupo de mercenários não é apenas um grupo de mercenários. É também uma rede de empresas. Diversificou-se na prospeção mineira e na exploração de vários recursos naturais, nomeadamente em África. Para preservar estes recursos e a influência russa no estrangeiro, “Wagner será provavelmente substituído por outra estrutura que fará a mesma coisa, com o mesmo pessoal, exceto os tenentes leais a Yevgeny Prigozhin”, diz Thierry Vircoulon, investigador associado do Centro África do Ifri. “Esta morte é apenas mais uma numa longa lista de oligarcas próximos do governo russo que morreram misteriosamente desde o início da guerra na Ucrânia. Estas pessoas morrem, mas as empresas sobrevivem-lhes”, acrescenta o investigador.

A rede de empresas também poderia ser desmantelada em vários mini-impérios deixados nas mãos de diferentes oligarcas próximos de Vladimir Putin. Esta é uma terceira hipótese. Em todo o caso, “é o fim de Wagner tal como o conhecemos”, afirma Isabelle Dufour. Porque, para além de Yevgeny Prigozhin, “toda a direção do grupo morreu no acidente e, de qualquer modo, haverá uma reorganização”, acrescenta.

Não há mudanças na Ucrânia

A tentativa de golpe de Estado na noite de 23 para 24 de junho apontou uma arma à cabeça de Yevgeny Prigozhin. Mas Wagner já estava a desintegrar-se na Ucrânia. Dez dias antes, um decreto do Ministério da Defesa russo apelava à integração de unidades de voluntários de milícias privadas no exército regular, visando Wagner em particular. “O Kremlin já tinha anunciado a sua posição: ou os soldados aceitavam um contrato com o Ministério da Defesa e integravam a estrutura militar, ou ficavam sem emprego”, resume Thierry Vircoulon.

A sua provável próxima reorganização não deverá, portanto, perturbar os combates no terreno na Ucrânia. “Já estavam fora de jogo”, concorda Isabelle Dufour. A médio prazo, no entanto, a especialista sublinha que a ausência de Wagner pode “ser prejudicial”, mas “se o grupo for reconstituído no exército regular, o impacto será menor, ou mesmo insignificante”.

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