Guerra: Ucrânia acusa Rússia de destruir barragem e alerta para inundações

A Ucrânia acusa a Rússia de ter destruído a barragem de Kakhovka durante a madrugada. Rússia nega responsabilidade no ataque. Central nuclear de Zaporíjia está atenta aos avanços.

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As autoridades ucranianas acusam as tropas russas de terem destruído, na manhã desta terça-feira, a barragem de Kakhovka, em Kherson. A altura da água pode atingir “níveis críticos” ainda durante a manhã, levando à evacuação de várias aldeias nas margens do rio Dnipro, no sul da Ucrânia.

O ministério do Interior ucraniano pediu aos residentes de 10 aldeias na margem direita do rio Dnipro e de partes da cidade de Kherson que reúnam os documentos essenciais e animais de estimação, desliguem os aparelhos elétricos e abandonem as casas.

Em fevereiro, os níveis da água na barragem de Kakhovka estavam tão baixos que muitos temiam um colapso na central nuclear de Zaporijia, ocupada pelos russos, cujos sistemas de arrefecimento são abastecidos com água de um reservatório mantido pela barragem.

Em meados de maio, após fortes chuvas e com a neve de inverno a derreter, os níveis da água subiram além dos níveis normais, inundando aldeias próximas.

Destruição da barragem

O ataque à barragem ocorreu pouco antes das 7h da manhã na Ucrânia (5h em Portugal Continental). O aviso foi feito no Telegram pelo chefe da Administração Militar Regional de Kherson, Oleksandr Prokudin: “Mais um ato de terrorismo levado a cabo pelo exército russo”, escrevia o militar ucraniano, alertando ainda para a possibilidade da água libertada na sequência do ataque podia atingir “níveis críticos” nas cinco horas seguintes. Várias imagens que circulam nas redes sociais, e que parecem ser de uma câmara de vigilância, com vista para a barragem, mostram um foco de luz, uma explosão e a barragem a desabar.

Segundo a empresa estatal ucraniana que gere a barragem, a estrutura ficou completamente destruída e não pode ser recuperada. O porta-voz da Ukrhydroenergo avançou ainda que há cerca de 16 mil pessoas em risco “na margem direita de Kherson” e que há pelo menos sete localidades “parcial ou totalmente inundadas”.

Foram acionados os mecanismos de urgência, sendo pedido aos residentes nas zonas junto ao rio Dnipro, no sul da Ucrânia, que deixassem as suas casas.

A barragem situa-se a cerca de 60 quilómetros de Kherson, tendo o ministério do interior ucraniano apelado aos cidadãos de dez aldeias e vilas da margem direita do rio Dnipro que abandonassem as suas residências, temendo pelos efeitos provocados pela libertação de água. Foi ainda pedido que desligassem os aparelhos elétricos antes de abandonarem as suas casas.

A possibilidade de inundações levou a administração do distrito de Korabel, Kherson, a desligar o fornecimento de eletricidade e gás, invocando motivos de segurança, bem como a evacuação da cidade.

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A destruição da barragem pode ainda afetar a central elétrica de Zaporíjia, mas a probabilidade é baixa, segundo a empresa ucraniana de energia nuclear Energoatom.

A central usa água do reservatório de Kakhovsky para “receber energia para os capacitores de ventiladores e para os sistemas de segurança”, no entanto os tanques de arrefecimento têm reservas suficientes.

A Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA na sigla inglesa) confirmou estar a acompanhar os danos na barragem, assegurando que “não existe risco de segurança imediato na central”.

Reações ucranianas

O chefe do gabinete da Presidência ucraniana, Andriy Yermak, informou que na sequência da destruição da bagagem o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, convocou o conselho de segurança para delinear uma estratégia de resposta ao ato “terrorista cometido pelo exército russo”. Numa publicação no Twitter, Zelensky afirma que “a destruição da central hidroelétrica de Kakhovka vem confirmar a toda a gente que [os terroristas russos] têm de ser expulsos de toda a Ucrânia” e ainda que “se os russos tiverem um único metro de território, vão usá-lo para espalhar o terror”.

O ministro dos negócios estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, acusou a Rússia de ter causado um dos “maiores desastres tecnológicos das últimas décadas”, colocando em risco “centenas de vidas civis”, numa publicação feita no Twitter. O chefe da diplomacia ucraniano declarou este como um “crime de guerra hediondo”, afirmando que a única forma de parar a Rússia – “o maior terrorista do século XXI” – é conseguir “expulsá-la da Ucrânia”.

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O Conselho da Europa reagiu através da secretária-geral, Marija Pejcinovic Buric, que condenou a destruição da barragem, afirmando que é “criminoso e imprudente”.

Moscovo nega responsabilidade

O Kremlin nega uma ação concertada por trás da destruição da barragem. Num comunicado, Moscovo afirma que a barragem desmoronou “devido a danos” causados pelo conflito. 

Os russos reconhecem que a barragem sofreu danos que estão a levar algumas zonas próximas a sofrer inundações. “A barragem não aguentou, um suporte desabou e as inundações começaram”, revelou fonte oficial do governo russo à agência de notícias russa TASS.

O autarca da cidade ocupada de Nova Kakhovka disse que as forças ucranianas realizaram “uma série de ataques à central hidroelétrica de Kakhovka, que destruíram as válvulas” por volta das 2h00 (23h00 de segunda-feira em Portugal Continental). Também de acordo com a TASS, Vladimir Leontiev disse a água estava a sair da represa “de forma incontrolável”.

A contraofensiva ucraniana

A Ucrânia afirmou na segunda-feira estar a conduzir “ações ofensivas” em várias frentes e reivindicou avanços perto da cidade de Bakhmut. Moscovo confirmou as tentativas de avanço das tropas ucranianas, afirmando ter matado “mais de 1.500 soldados ucranianos” e destruído “28 tanques”.

O líder da organização paramilitar Wagner desvalorizou os balanços apresentados pelo Kremlin. “São apenas fantasias”, disse Yevgeny Prigozhin, afirmando ainda que matar 1.500 soldados num dia seria “um enorme massacre”. “Na verdade, por que não somar todos os números dados por Konashenkov? Acho que já destruímos todo o planeta Terra cinco vezes”, acrescentou, num tom sarcástico.

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