O Primeiro-Ministro do Japão, Shigeru Ishiba, anunciou esta segunda-feira que permanecerá no cargo, apesar da derrota sofrida pela sua coligação governamental nas eleições para a câmara alta do parlamento. A decisão surge em meio a um ambiente político turbulento, com críticas dentro do próprio Partido Liberal Democrata (PLD) e ameaças de moções de censura por parte da oposição.
Na conferência de imprensa, Ishiba explicou que pretende continuar a liderar o país durante as negociações comerciais com os Estados Unidos e enfrentar questões económicas urgentes, como a inflação crescente, que pressiona a quarta maior economia do mundo.
“Alterações no ambiente externo, como a situação internacional ou desastres naturais, não podem esperar que a política se estabilize”, justificou o primeiro-ministro, reconhecendo “a grave responsabilidade pelos resultados eleitorais” mas assumindo a obrigação de evitar a estagnação política.
Derrota apertada, mas simbólica
A coligação governamental obteve 47 dos 50 assentos necessários para manter o controlo da Câmara dos Conselheiros, composta por 248 lugares. Com isso, o PLD e o parceiro minoritário Komeito somam agora 122 deputados, insuficientes para garantir a maioria sem alianças adicionais.
A derrota é interpretada como mais um golpe político para Ishiba, cuja liderança tem sido enfraquecida pela subida do custo de vida, estagnação económica e frustração popular com o rumo do país.
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A eleição marcou também a emergência do partido de extrema-direita Sanseito, que saltou da irrelevância para conquistar 14 assentos, somando agora 15 na câmara alta. O partido capitalizou o descontentamento generalizado com a inflação e o fraco crescimento económico, apostando em retórica nacionalista, promessas de cortes fiscais e ataques ao globalismo.
O líder do Sanseito, Sohei Kamiya, um ex-professor de inglês e gestor de supermercado, tornou-se conhecido por teorias da conspiração sobre vacinas e discursos anti-imigração, inspirando-se no estilo político de Donald Trump.
“O lema ‘O Japão em Primeiro Lugar’ visa recuperar os meios de subsistência do povo japonês resistindo ao globalismo”, afirmou Kamiya, negando acusações de xenofobia.
Apesar disso, a sua plataforma eleitoral foi construída sobre apelos nacionalistas e temores sobre uma alegada ‘invasão silenciosa’ de imigrantes — mesmo que estes representem apenas 3% da população japonesa, segundo dados oficiais.
Crise interna no PLD
Analistas indicam que a falta de alternativas fortes dentro do PLD pode manter Ishiba no poder a curto prazo. No entanto, segundo Tomohiko Taniguchi, do Fujitsu Future Studies Centre em Tóquio, “haverá intensas disputas internas que poderão pôr em causa a liderança do primeiro-ministro nas próximas semanas”.
O resultado eleitoral também reflete o enfraquecimento estrutural do PLD, historicamente dominante na política japonesa. “O crescimento do Sanseito é um reflexo direto da fragilidade do partido no poder”, observou Joshua Walker, presidente da Japan Society, nos EUA.
A insatisfação popular como pano de fundo
De acordo com sondagens da NHK realizadas antes das eleições, a imigração preocupava apenas 7% dos eleitores, enquanto o aumento dos preços dos alimentos — especialmente do arroz, que duplicou de preço num ano — e a baixa natalidade são as maiores fontes de preocupação da população.