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Internacional/Grupo Wagner no Mali: Sequestros, Torturas e Executados em Bases Militares

Investigação revela que mercenários russos mantêm centenas de civis detidos e denunciam práticas brutais desde 2022 em cooperação com o Exército maliano

Uma investigação do coletivo de jornalistas Forbidden Stories, publicada na quinta-feira, revela que os paramilitares russos do grupo Wagner, presentes no Mali há mais de três anos e meio, sequestraram e detiveram centenas de civis em antigas bases da ONU e em campos militares compartilhados com o Exército maliano.

Desde os dois golpes de Estado de 2020 e 2021, que levaram ao poder uma junta liderada pelo general Assimi Goïta, o Mali cortou sua aliança com a antiga potência colonial francesa e voltou-se militar e politicamente para a Rússia, recorrendo especialmente aos serviços do Wagner.

Métodos brutais e relatos de sobreviventes

Pessoas ouvidas pela investigação, refugiadas em campos na vizinha Mauritânia, relataram os maus-tratos sofridos nas prisões dos mercenários russos. Sobreviventes descrevem simulações de afogamento, espancamentos com cabos elétricos e queimaduras causadas por pontas de cigarro. A investigação revela uma série de abusos: sequestros, prisões arbitrárias, isolamento do mundo exterior e tortura sistemática — às vezes até a morte.

O coletivo identificou seis locais de detenção onde o grupo Wagner manteve civis entre 2022 e 2024, embora o número real possa ser “muito maior”, segundo os jornalistas. Foram localizadas bases militares em Bapho, Kidal, Nampala, Niafunké, Sévaré e Sofara onde os civis foram presos e torturados, em uma investigação conduzida em parceria com a emissora francesa France 24, o jornal Le Monde e o site russo independente IStories.

Pelo menos 500 execuções em março de 2022

Há três anos e meio, o Mali conta com o grupo Wagner para apoiar sua luta contra grupos jihadistas que causaram milhares de mortes no país. O governo maliano nunca confirmou oficialmente a presença dos mercenários, alegando ter contratado apenas instrutores russos.

Na semana passada, um canal no Telegram ligado ao Wagner anunciou a saída do grupo do Mali. Seus contingentes serão incorporados pelo seu sucessor, o Africa Corps, outra organização sob o controle do Ministério da Defesa russo, conforme fontes diplomáticas e de segurança.

As práticas brutais do Wagner no Mali têm sido frequentemente denunciadas por organizações de direitos humanos. A ONU acusou, em relatório, o Exército maliano e combatentes “estrangeiros” de terem executado ao menos 500 pessoas em março de 2022, durante uma operação antijihadista em Moura, no centro do país, denúncia rejeitada pela junta maliana. Para os países ocidentais, esses combatentes estrangeiros eram membros do Wagner.

Em abril, corpos foram encontrados nas proximidades de um campo militar maliano, poucos dias após a prisão, pela força militar e pelos paramilitares do Wagner, de dezenas de civis, a maioria da comunidade peule.

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