A explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônio no porto de Beirute, em 4 de agosto de 2020, devastou a cidade e deixou mais de 218 mortos, entre eles a pequena Alexandra Naggear, de três anos.
Passados cinco anos, a investigação judicial sobre os responsáveis pelo desastre foi por diversas vezes adiada ou sabotada por interferências políticas.
Para Tracy Naggear, mãe de Alexandra e ativista pelos direitos das vítimas, a prioridade é clara: “Não queremos apenas uma decisão, queremos justiça plena. Não aceitaremos meias-verdades ou meias-justiças”, declarou à Al Jazeera.
Momento de esperança após anos de bloqueios e impunidade
Apesar dos anos difíceis, há uma nova sensação de que o processo judicial pode finalmente avançar. Fontes próximas à investigação afirmam que uma decisão importante do principal juiz do caso deve ser anunciada em breve.
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Comprar um espaço para minha empresa.A advogada Tania Daou-Alam, que perdeu o marido na explosão, compartilha esse otimismo. Residente nos EUA, ela voltou ao Líbano para participar da cerimônia anual de lembrança e dos protestos que exigem justiça.
Daou-Alam faz parte de um grupo de nove vítimas que processam nos EUA a empresa TGS por um valor de 250 milhões de dólares, por suposta responsabilidade no transporte do navio Rhosus, que trouxe o nitrato para Beirute. Para ela, o processo busca mais transparência e responsabilização do que compensações financeiras.
Cenário de crises, abandono estatal e impunidade histórica
A população de Beirute está acostumada a enfrentar crises sem ajuda do governo. Vários ataques e assassinatos ocorreram ao longo dos anos sem que ninguém fosse responsabilizado.
O fim da guerra civil em 1990, segundo especialistas, marcou o início de um ciclo de impunidade, em que antigos líderes de milícias assumiram cargos políticos e desviaram recursos públicos para interesses pessoais.
Responsabilidades e atrasos na investigação
As primeiras apurações indicaram que a explosão foi causada pelo armazenamento inadequado do nitrato de amônio no porto por cerca de seis anos. Altos funcionários, incluindo o então presidente Michel Aoun, foram informados da situação e nada fizeram.
O juiz Fadi Sawan assumiu a investigação em agosto de 2020, mas foi afastado após tentar interrogar políticos influentes. Seu substituto, o juiz Tarek Bitar, também convocou importantes figuras políticas, algumas das quais se recusaram a colaborar alegando imunidade parlamentar.
Esforços de Bitar foram frequentemente bloqueados pela polícia e por autoridades judiciais, com o antigo procurador público Ghassan Oueidat suspendendo a investigação.
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Em 2025, o Líbano elegeu o presidente Joseph Aoun e o primeiro-ministro Nawaf Salam, ambos comprometidos com a busca por justiça. O ministro da Justiça prometeu total apoio ao juiz Bitar, eliminando obstáculos à investigação.
Em março de 2025, o novo procurador público, Jamal Hajjar, revogou decisões anteriores e permitiu que a investigação prosseguisse.
Presença de políticos em interrogatórios e desafios à independência judicial
Entre os investigados que começaram a comparecer estão Tony Saliba (ex-diretor-geral da Segurança do Estado), Abbas Ibrahim (ex-diretor-geral da Segurança Geral) e Hassan Diab, primeiro-ministro na época da explosão.
No entanto, figuras como Hassan Khalil e Ghazi Zeiter continuam a recusar convocações, agravando a disputa pela independência da justiça no país.
Desafios para uma justiça efetiva
Especialistas alertam que a independência judicial é fundamental para que o processo não seja mais um fracasso, permitindo que a justiça investigue sem interferências políticas.
Tracy Naggear reforça que a luta é pela memória de sua filha e de todas as vítimas, por todos que foram afetados direta ou indiretamente pela tragédia do dia 4 de agosto.