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Internacional/Médio Oriente: Irão e EUA retomam negociações cruciais sobre o nuclear em Roma sob tensão crescente

O Irão e os Estados Unidos reúnem-se esta sexta-feira em Roma para um quinto ciclo de negociações sobre o programa nuclear iraniano, num contexto de tensões renovadas e divergências persistentes sobre o enriquecimento de urânio. As conversações, mediadas por Omã, têm lugar num momento-chave, com os dois países a reafirmarem publicamente posições inconciliáveis.

Desde 12 de abril, Teerão e Washington retomaram o diálogo sobre o dossiê nuclear, aquele que é o nível mais elevado de envolvimento diplomático entre os dois Estados desde a retirada unilateral dos EUA, em 2018, do acordo internacional assinado em Viena três anos antes.

A decisão partiu do então presidente norte-americano Donald Trump, que durante o seu primeiro mandato (2017-2021) impôs sanções económicas severas ao Irão, num quadro de « pressão máxima » que ainda hoje condiciona fortemente a economia iraniana.

Washington procura agora negociar um novo acordo, enquanto Teerão exige a suspensão das sanções como condição indispensável para avançar. A questão do enriquecimento de urânio surge como principal obstáculo. O emissário norte-americano para o Médio Oriente, Steve Witkoff, deixou claro que « os EUA não podem permitir nem sequer um por cento de capacidade de enriquecimento » por parte do Irão.

« O Irão não pode ter essa capacidade, pois torna-se uma potência nuclear latente », sublinhou o chefe da diplomacia norte-americana, Marco Rubio. Em resposta, o negociador iraniano Abbas Araghchi declarou na quinta-feira que « persistem divergências fundamentais » entre os dois países. E advertiu: « se os EUA impedirem o Irão de enriquecer urânio, não haverá acordo ».

Teerão defende o direito ao uso pacífico do nuclear e considera essa exigência americana uma violação do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual é signatário. « A soberania do Irão é uma linha vermelha e não abdicaremos do direito de enriquecer urânio », afirmou o politólogo iraniano Mohammad Marandi à AFP.

Os países ocidentais, com os Estados Unidos à cabeça, e Israel — considerada a única potência nuclear do Médio Oriente — suspeitam que o Irão pretende desenvolver uma arma nuclear, uma acusação que Teerão nega veementemente.

De acordo com o porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atómica, Behrouz Kamalvandi, mais de 17.000 pessoas estão envolvidas na indústria nuclear iraniana, nomeadamente nas áreas da energia e da medicina. « Países como os Países Baixos, Bélgica, Coreia do Sul, Brasil e Japão enriquecem urânio sem possuírem armas nucleares », lembrou no início de maio.

Entretanto, o presidente Donald Trump abordou a questão iraniana com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, confirmou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, na quinta-feira. Trump considera que as negociações estão « a seguir na direção certa », apesar do ceticismo de Telavive.

Na terça-feira, a cadeia televisiva CNN, citando fontes oficiais sob anonimato, avançou que Israel estaria a preparar um ataque às instalações nucleares do Irão. Em reação, Abbas Araghchi advertiu que o Irão considerará os EUA responsáveis por qualquer ação militar israelita contra o seu território nuclear.

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Segundo a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), o Irão enriquece atualmente urânio a 60%, ultrapassando largamente o limite de 3,67% estabelecido pelo acordo de 2015, embora ainda abaixo dos 90% necessários para uso militar. Essa escalada deve-se à retaliação iraniana pela saída dos EUA do pacto.

As negociações desta sexta-feira ocorrem antes da reunião do Conselho da AIEA marcada para junho em Viena, onde as atividades nucleares do Irão voltarão a ser analisadas. O acordo de 2015, com validade até outubro deste ano, prevê o restabelecimento automático de sanções da ONU caso o Irão viole os seus compromissos.

A França já avisou no mês passado que « não hesitará um segundo » em acionar esse mecanismo, juntamente com a Alemanha e o Reino Unido, caso o programa nuclear iraniano represente uma ameaça para a segurança europeia.

Estes três países, tal como a China e a Rússia, continuam a ser partes do acordo nuclear de 2015, embora com visões muitas vezes divergentes sobre a estratégia a adotar.