Pelo menos quatro palestinianos foram mortos a tiro por forças israelitas enquanto se dirigiam para um centro de distribuição de ajuda humanitária no sul da Faixa de Gaza, informaram fontes médicas locais na manhã desta segunda-feira.

O incidente ocorreu antes do amanhecer, próximo de Rafah, onde centenas de pessoas se tinham reunido com a esperança de obter alimentos fornecidos pela Gaza Humanitarian Foundation (GHF), um novo sistema de distribuição apoiado por Israel e pelos Estados Unidos.

De acordo com o exército israelita (IDF), os soldados « emitiram um aviso verbal e dispararam tiros de advertência » ao verem um grupo de pessoas que consideraram uma ameaça em aproximação. No entanto, testemunhas afirmam que os disparos foram direcionados contra civis desarmados, entre os quais se encontrava um homem que foi atingido na cabeça enquanto aguardava ajuda alimentar para a sua família.

A IDF declarou estar ciente de relatos sobre vítimas, mas afirmou que « o número de feridos ou mortos não corresponde às informações atualmente disponíveis para as forças israelitas ».

Situação humanitária agrava-se com novo sistema de ajuda

O sistema GHF, recentemente criado por Israel e apoiado por Washington, tem sido alvo de fortes críticas por parte de organizações humanitárias internacionais, que consideram a estrutura « inviável e antiética », acusando-a de contornar as agências da ONU responsáveis pela assistência na região.

Desde a ativação do GHF, mais de 60 palestinianos foram mortos por tiros durante os três primeiros dias de operação, segundo informações de médicos e autoridades locais. A maioria das mortes ocorreu em circunstâncias semelhantes: pessoas famintas reunidas junto aos centros de distribuição foram atingidas por disparos efetuados pelas tropas israelitas.

No sábado, seis palestinianos foram mortos e vários outros ficaram feridos, informou a Defesa Civil controlada pelo Hamas. A IDF voltou a justificar os disparos com « movimentos suspeitos em direção às posições israelitas ».

Restrições de horário e zona de combate

O exército israelita determinou que os deslocamentos para os centros de distribuição do GHF só podem ocorrer entre as 06:00 e as 18:00, considerando todos os outros períodos como « zona ativa de combate ». A fundação anunciou a abertura de três pontos de distribuição no domingo, um no centro de Gaza e dois em Rafah.

Israel começou recentemente a permitir a entrada limitada de ajuda humanitária em Gaza, após um bloqueio de três meses, com prioridade para a distribuição através da GHF, em detrimento da coordenação com as Nações Unidas. Israel justifica esta mudança com alegações de que a ONU não conseguiu impedir que o Hamas desviasse a ajuda para fins militares, algo que a organização nega categoricamente.

Flotilha internacional desafia bloqueio marítimo

Enquanto isso, um novo desafio ao bloqueio imposto por Israel aproxima-se da costa de Gaza. A Freedom Flotilla Coalition, organização responsável pela embarcação Madleen, informou que o barco está a cerca de 160 milhas náuticas de Gaza. A bordo encontra-se, entre outros ativistas, a sueca Greta Thunberg.

Os organizadores disseram estar « a preparar-se ativamente para uma possível interceção » por parte da marinha israelita. O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, já emitiu uma advertência direta: « É melhor voltarem para trás, porque não chegarão a Gaza. »