O dote ou o Lobolo, como vamos tratar aqui, é um bem que um ascendente ou outra pessoa dá à família da noiva no dia do seu casamento, isso se quisermos uma explicação generalizada.
Esta prática tem longa história na África, mas também na Europa e no sul da Ásia. Foi usado inicialmente como condição para que as famílias se ajuntassem tornando-se numa só. No nosso país continua a ser uma prática recorrente, o que significa que muitas famílias preparam o Lobolo como uma forma de casamento tradicional.
Geralmente tudo inicia com um acordo. A família tanto da noiva como do noivo deve estar em sintonia na hora de se realizar o Lobolo para que o mesmo ocorra sem sobressaltos. Entretanto, reza a história que o dote no nosso país era feito com bens simbólicos e não exigia valores avultados como ocorre actualmente.
Uma garrafa de vinho e uma moeda de cinco contos, na altura, era o suficiente para a família da noiva permitir que esta fosse viver com o seu escolhido. A moeda e a garrafa de vinho eram entregues por um membro mais velho da família do noivo e a partir daí os cônjuges já podiam ser considerados marido e mulher, pela tradição.
Os tempos foram mudando. Hoje em dia segue-se alguns processos relativamente mais complexos para se chegar ao Lobolo. O primeiro passo é que as famílias se conheçam. A seguir, é feita a lista do Lobolo, na qual vão constar os pedidos feitos pela família da noiva para a concretização da cerimónia tradicional.
A lista é muitas vezes feita por alguém mais velho da família da noiva, previamente acordado. Os bens e produtos da lista variam de família para família, mas os mais comuns, pelo menos na região sul do país, são: fatos para os pais da noiva, sapatos para ambos, bengala, capulanas, roupa da noiva, acessórios, garrafões de vinho, caixas de cerveja e de refresco, animais como cabrito, boi, e por aí vai, incluindo um valor monetário à parte.
Pese embora o Lobolo seja uma prática antiga, alguns questionamentos foram surgindo ao longo dos tempos. Uma vez que a entrega destes produtos culminava com a ida da mulher à casa do homem, surgiram dúvidas segundos as quais não se tratava de uma “troca”. A troca dos bens pela mulher. Isto, por um lado, tem que ver com os valores considerados exorbitantes exigidos pela família da mulher o que a coloca na posição de produto de troca.
As discussões em torno deste assunto não cessam. Mas o que ocorre é que mesmo com a imposição de valores altos, a nossa sociedade é também exemplo das que fazem o Lobolo como manifestação da tradição que vem de longe. Mesmo com dotes altos, casamentos há que não duram muito tempo e na pior das hipóteses, surgem até casos de violência doméstica associada ao facto de que o homem tem total poder sobre a mulher uma vez que sua família cumpriu com a entrega do dote.
A questão sobre se é de facto negócio ou tradição surge mesmo na sequência dos valores monetários estipulados para a realização do Lobolo e sobre o valor que se tem dado ao mesmo. Recuando mais um pouco, mesmo com poucos bens oferecidos na hora do dote, os casamentos antigamente só terminavam com a morte de um dos cônjuges, o que já não ocorre hoje. Jovens casam-se e separam-se de forma natural colocando em causa o significado do dote.
Por: Érica Januário