Morre ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi

Magnata dos media e antigo dono do AC Milan estava internado no hospital San Raffaele, em Milão, desde sexta-feira. Tinha 86 anos.

Oantigo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi morreu esta segunda-feira, aos 86 anos, avança o Corriere della Serra e o La Repubblica.

O magnata dos media estava internado no hospital San Raffaele, em Milão, desde sexta-feira.

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Esta manhã, os seus filhos Marina, Eleonora, Barbara e Pier e o seu irmão Paolo correram para o hospital, onde já estava a mulher, Marta Fascina.Berlusconi havia sido internado a 5 de abril na unidade de cuidados intensivos devido a uma pneumonia agravada pela leucemia crónica de que sofre há alguns anos e, após 12 dias, foi transferido para uma enfermaria. 44 dias depois teve alta, mas voltou a ser hospitalizado na passada sexta-feira.

Berlusconi foi hospitalizado várias vezes ao longo dos anos, numa delas para lhe ser implantado um estimulador cardíaco (‘pacemaker’).

O antigo primeiro-ministro, cargo que exerceu em três ocasiões, esteve também internado por causa da covid-19 e, em janeiro de 2022, para tratar uma infeção urinária.

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O polémico assumido da política italiana

Silvio Berlusconi foi uma figura polémica cujos nove anos como primeiro-ministro de Itália foram marcados por acusações de corrupção e escândalos sexuais que culminariam na sua expulsão do Senado, em 2013.

Governo do país liderado por uma mulher de extrema-direita, a primeira-ministra Giorgia Meloni -, embora não ocupando qualquer cargo governamental.

No intervalo, entre julho de 2019 e outubro de 2022, ainda passou pelo Parlamento Europeu, de que foi o mais velho deputado, como membro do grupo do Partido Popular Europeu (PPE, democratas-cristãos).

O prestigiado cineasta italiano Nanni Moretti satirizou-o na longa-metragem “O Caimão” (2006), centrada nas dificuldades enfrentadas por um produtor e uma argumentista para arranjarem financiamento para um filme sobre Berlusconi, que ainda tentou travar a exibição, mas não conseguiu.

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Também o cineasta italiano Paolo Sorrentino realizou, em 2018, um filme sobre o magnata, intitulado “Loro” e que, embora advertindo no princípio tratar-se de uma obra de ficção, retrata o segundo casamento de Berlusconi, com Veronica Lario (1990-2010), com quem teve três filhos, enquanto dava festas cheias de mulheres, e também as suas tentativas de se manter na política italiana.

Nascido a 29 de setembro de 1936, filho de um bancário milanês, Silvio Berlusconi, grande fã do cantor norte-americano Nat King Cole, começou a trabalhar como animador em barcos de cruzeiro no Mediterrâneo, cantando e dizendo piadas, enquanto estudava Direito.

Terminada a licenciatura na Universidade de Milão, lançou-se nos negócios: começou então uma incrível ascensão que levantou interrogações quanto à origem da sua fortuna, a maior de Itália durante dez anos e em relação à qual sempre foi vago.

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Este ano, a revista norte-americana Forbes classificou a sua fortuna e da sua família como a 352.ª maior do mundo, com um património líquido de 6,8 mil milhões de dólares (cerca de 6,2 mil milhões de euros).

Foi sobretudo no setor da televisão que se manifestou a veia criativa deste grande comunicador, que, a partir da década de 1980, não hesitou em “polvilhar” os seus programas com mulheres nuas para captar audiências.

A ‘holding’ da família Berlusconi, a Fininvest, inclui três estações televisivas, jornais, as edições Mondadori, e incluiu ainda até 2017 – a cereja em cima do bolo, para este fã de futebol – o AC Milan, considerado um dos clubes mais importantes do mundo, que acabou por vender a um grupo chinês por cerca de 740 milhões de euros, após ter conquistado 29 troféus em 31 anos, presidindo atualmente ao AC Monza, clube da região da Lombardia.

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Em 1994, ‘il Cavaliere’ – o mais jovem distinguido como cavaleiro da Ordem de Mérito do Trabalho, que acabaria por abandonar voluntariamente em 2014 – iniciou a sua carreira política: em apenas algumas semanas, pôs de pé o partido Força Itália e venceu as eleições, mas, abandonado pelos aliados, o seu Governo caiu ao fim de sete meses.

Em 2001, reconquistou o poder e conservou-o até abril de 2006 – um recorde na história da Itália do pós-guerra.

Desgastado por esses cinco anos, foi derrotado por uma pequena margem nas legislativas seguintes, mas desforrou-se dois anos depois, instalando-se ao comando do país pela terceira vez em 2008, até novembro de 2011, quando se viu obrigado a ceder as rédeas de uma Itália afetada por uma grave crise financeira ao economista Mario Monti.

Durante todos esses anos, nos seus diversos processos judiciais por corrupção e fraude fiscal, Berlusconi apresentou-se sempre como uma vítima da magistratura de esquerda, até uma condenação definitiva a 01 de agosto de 2013: a sua pena de quatro anos de prisão por fraude fiscal no caso Mediaset, três dos quais suprimidos por uma amnistia, foi confirmada pelo Supremo Tribunal.

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Muito preocupado com a sua aparência, este homem de cabelo escasso pintado de castanho, a quem uma espessa camada de base dava um ar eternamente bronzeado, recorreu durante anos sem complexos a cirurgias estéticas.

O seu gosto assumido por mulheres bonitas, incluindo ‘acompanhantes de luxo’, acabou por lhe valer, em 2009, um pedido de divórcio, bem como um processo por prostituição de menor e abuso de poder, tendo como figuras centrais a jovem marroquina Karima El Mahrug, conhecida como ‘Ruby Rubacuori’ (Ruby Rouba-corações) e as chamadas festas de ‘Bunga-Bunga’, no escândalo que ficou conhecido como “Rubygate”.

Hiperativo e dormindo poucas horas, tinha problemas cardíacos desde os anos 1990 e implantou em 2006 um ‘pace-maker’ nos Estados Unidos; em 2016, foi submetido a uma cirurgia de peito aberto ao coração, em 2019 voltou ao bloco operatório devido a uma obstrução intestinal e, em 2020, foi várias vezes hospitalizado devido a sequelas de covid-19.

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Em 1997, tinha já sido operado a um tumor na próstata e, ao longo dos anos, foi diversas vezes internado por problemas no trato urinário; por último, já em abril de 2023, foi-lhe diagnosticada uma leucemia.

Pai de cinco filhos nascidos de dois casamentos e várias vezes avô, este personagem excêntrico, companheiro de uma mulher 53 anos mais nova – Marina Fascina, deputada do seu partido, Força Itália, também eleita deputada nas legislativas de 2022 -, desperta nos seus compatriotas admiração incondicional ou ódio visceral.

A música foi, a par da política e do futebol, uma das suas grandes paixões: quando era jovem, sonhava ser um cantor de charme e, mais tarde, chegou a gravar um disco de canções de amor napolitanas, além de ter sido coautor dos hinos do AC Milan e do seu partido, Força Itália.

As suas piadas racistas e ‘gaffes’ diplomáticas também fizeram manchetes, tendo numa ocasião comparado um eurodeputado alemão a um nazi.

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A sua descrição do ex-presidente norte-americano Barack Obama como “bronzeado”, o hábito de ‘flirtar’ com mulheres em cargos políticos de topo e a sua amizade com o falecido ditador líbio, Muhammar Kadhafi, e, mais recentemente, com o Presidente russo, Vladimir Putin – especialmente depois de a Rússia ter invadido a vizinha Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022 – ajudaram igualmente a danificar a sua imagem.

Mas Silvio Berlusconi nunca pediu desculpas e sempre cultivou a controvérsia, tendo chegado a classificar-se como “o melhor líder político da Europa e do mundo”, depois de se ter comparado com Jesus Cristo e de ter também afirmado: “Apenas Napoleão fez mais do que eu fiz. Mas eu sou definitivamente mais alto”.

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