Uma substância amplamente consumida e conhecida pelos seus efeitos estimulantes pode, na verdade, contribuir para o desenvolvimento de cânceres no sangue. Este é o alerta feito por uma equipe de investigadores do Wilmot Cancer Institute, da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, em um estudo recentemente publicado na revista Nature. Os cientistas identificaram um papel preocupante da taurina, um aminoácido naturalmente presente no corpo humano, mas também adicionado a muitas bebidas energéticas, como Red Bull, Monster e Celsius.

O estudo destaca um mecanismo até então desconhecido. A taurina, produzida por algumas células saudáveis da medula óssea, pode alimentar a proliferação de células cancerígenas no contexto das leucemias mieloides. Incapazes de produzir taurina por si mesmas, essas células utilizam um transportador específico, codificado pelo gene SLC6A6, para absorver essa substância do ambiente ao seu redor.

Um apelo à precaução

Os investigadores demonstraram, em modelos murinos e em células humanas, que bloquear a absorção de taurina pelas células cancerígenas poderia retardar a progressão da doença. Este bloqueio impediria, sobretudo, um processo crucial no crescimento tumoral, a glicólise, que fornece às células malignas a energia necessária para a sua multiplicação.

Embora esta pesquisa ainda esteja em fase inicial e não tenha sido testada em humanos, ela levanta questões importantes sobre a segurança das bebidas energéticas, consumidas regularmente por milhões de pessoas em todo o mundo. « A taurina é um ingrediente comum nas bebidas energéticas e muitas vezes utilizada para atenuar os efeitos colaterais da quimioterapia. Os nossos trabalhos sugerem que seria pertinente reavaliar os benefícios e os riscos desta suplementação », destaca a equipe da doutora Jeevisha Bajaj, que liderou o estudo.

Uma substância de dois gumes

O alerta não se aplica apenas aos pacientes com leucemia. Dada a ampla disponibilidade da taurina na alimentação e nos suplementos, os investigadores apelam à precaução, especialmente no caso de consumo excessivo através de bebidas industriais.

Naturalmente presente em alimentos como carne, peixe e ovos, a taurina também é utilizada em suplementos alimentares, em particular nas fórmulas proteicas ou bebidas para atletas. É conhecida por favorecer a hidratação, apoiar o sistema nervoso e melhorar a resistência física. No entanto, esta nova perspetiva científica exige uma vigilância redobrada.

As leucemias mieloides estão entre as formas mais agressivas de câncer no sangue. Um estudo anterior, publicado em 2024 na revista Cell, já havia indicado que a taurina pode desempenhar papéis ambivalentes em outros tipos de câncer, dependendo do contexto biológico e do tipo de tumor. Em outras palavras, a taurina não é intrinsecamente perigosa, mas a sua interação com certas células, como aquelas envolvidas na leucemia, pode favorecer a sua sobrevivência e proliferação.

Moderação é a palavra de ordem

A equipe de Rochester mantém-se otimista. Ao compreender melhor os circuitos metabólicos que as células cancerígenas manipulam para seu próprio benefício, os investigadores esperam identificar novas alvos terapêuticos. Assim, o bloqueio da via da taurina pode abrir caminho para tratamentos inovadores contra as leucemias.

Enquanto isso, a moderação é a recomendação. Limitar o consumo de bebidas energéticas pode ser uma medida sensata, especialmente em casos de histórico familiar de câncer no sangue ou em situações de fragilidade imunológica.