“Se a cicatriz não existisse, não estaria aqui”.

Outubro Rosa é um mês para ouvir e ficar a conhecer histórias de superação de mulheres que lutam contra o cancro da mama e que se destacam numa sociedade ainda não preparada a aceitá-las na sua condição.

Delaila Taju é uma destas mulheres moldada pela coragem, força e vontade de sobreviver, mas sobretudo pela liberdade duramente adquirida de ser como é.

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“Aos poucos, fui me aceitando e apreciando as minhas cicatrizes, percebi que esta mulher ao espelho, se não estivesse aqui, eu não estaria viva, que esta mulher faz parte da minha vida, não podia ter vergonha dela, antes pelo contrário, ter orgulho. Hoje, olho-me melhor ao espelho e em termos de autoestima, tirar aquelas fotos acima de tudo, além de ajudar outras mulheres, a elevarem a sua autoestima, a gostar delas e a não deixarem de ser mulheres, tudo o que fiz para mim”.

Foi a 27 de Agosto de 2017, a fazer o autoexame e auto-toque que Delaila descobriu um nódulo na mama que se revelou ser um cancro. “Sempre pensamos que nada vai acontecer connosco. Não tive medo de morrer mas sim de enfrentar todo o processo de cura”, refere emocionada.

Penoso foi perceber que a luta contra a doença passa por inúmeras fases de tratamento, a quimioterapia, a cirurgia e também a sua dependência perante a família, sentir-se culpada de levar-lhes uma má notícias.

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“Achava horrível passar por tudo isso e ainda acho que é horrível”.

Delaila Taju enfrentou um cancro bastante agressivo. Foi submetida a uma cirurgia para retirar a mama esquerda e, assim, salvar a sua vida. Sentiu emoções fortes, a necessidade de ser manter firme por amor forte por amor aos seus pais até o medo de lidar com os tratamentos, os custos e o sofrimento.

“Fui submetida a cirurgia e quando a operação terminou, fui para o meu quarto, sentia tanta dor e com sensação de ter tudo partido aqui dentro. Chegou o momento da verdade. Quando de pijama, vi o penso e realizei que os médicos retiraram a minha mama, o vazio que senti foi tão grande que pensei: ‘não sei se vou superar isto’”.

Cancro de mama e autoestima, o percurso de Delaila

Delaila nunca pensou na morte mas sempre na mama que lhe foi retirado. Entrou em depressão por sofrer a um ponto que a própria dor torna-se num anestésico à dor. Passou pelo golpe de misericórdia, a faltar de autoestima, a não perceber como encontrar o amor tendo apenas uma única mama e ultrapassar estes momentos dolorosos.

Sob os cuidados do seu pai, Delaila deu outro passo na superação das adversidades da doença e da vida. Este transmitiu-lhe valores e força para deixar de se sentir vítima. Com todo apoio e carinho da sua família esta encontrou motivos para sorrir e  começar a sentir-se linda.

“Tive de encontrar uma saída para parar com o sofrimento e a angústia do julgamento do outro. Fui procurar na internet e fui buscar como viver, como renascer, como erguer se das cinzas”.


Cancro de mama e autoestima, o percurso de Delaila

Nunca foi fácil. A sentir-se descriminada, a ser magra, careca, com apenas uma mama,  depois de um certo período no seio reconfortante da casa, surgiu o medo de voltar à vida quotidiana e sobretudo à vida profissional, feita de interações sociais.

 Finalmente esta coragem que lhe deu força para enfrentar o espelho primeiro dentro de casa e depois la’ fora, o olhar insistente da sociedade, ajudou Delaila Taju a aceitar-se, a tornar esta pessoa estranha que surgiu do medo e do desconhecido enquanto perdia o cabelo, os pelos e a sua feminidade, numa mulher com autoestima.

“Agora, olho para mim mesma, sinto-me uma mulher ainda que com a minha cicatriz e sem uma mama porque eu venci. Venci não só a operação, consegui trazer para mim o que não conseguia valorizar antes. Vejo-me ao espelho uma mulher vencedora e, para mim esta palavra vencedora é tudo”. Cancro de mama e autoestima, o percurso de Delaila

Esta história contada por Delaila Taju é um belo exemplo de superação dos desafios impostos pela vida. Ensina-nos a respeitar os outros mesmo que sejam diferentes porque nunca se sabe por quais dificuldades estas pessoas passaram e como, com muita coragem, aceitam expor-se em fotografias com muito orgulho e transmitir a sua mensagem. Neste caso, a mensagem pode salvar vidas e ajudar mulheres afectadas pelo cancro da mama a ultrapassar as numerosas adversidades que surgem do tratamento à cura.

“Vejo-me com um vaso partido, o vaso está em processo de reconstrução. O vaso não vai ser o mesmo mas com certeza terá outra beleza. Então estou a construir o meu vaso, eu sei, com peças quebradas, mas também, a partir dali vai sair uma personalidade, não vai ser igual ao vaso original mas vai ser uma coisa bonita e diferente com muitas histórias para contar. Cada pedaço conta uma história, é o sentimento meu, a frustração minha, a minha história”.

Por: Anne-Laure Josserand
Fotografias:  Vladimir de Sousa