O governador do banco central da Zâmbia afirmou que o país escolheu não pagar a prestação da dívida, caindo em incumprimento, não por falta de dinheiro, mas por querer tratar todos os credores de forma igual.
« Não é que não pudéssemos pagar, mas não pagaremos a nenhum credor e vamos tratá-los a todos igualmente », explicou o governador do banco central zambiano, Christopher Mvunga, numa conferência de imprensa em Lusaca, citada pela agência de notícias France-Presse.
Mvunga alertou para a situação financeira « muito difícil » do país e admitiu que não seria possível pagar a todos os credores, mas salientou que a decisão de não fazer o pagamento de 42,5 milhões de dólares sobre uma emissão de mil milhões de dólares, que vence em 2024, foi propositada e decorre da rejeição da moratória de seis meses pedida em setembro.
A Zâmbia deverá ver a sua economia contrair-se 4% este ano, depois de ter crescido 1,7% em 2019 e 4% em 2018, tendo uma dívida pública que no ano passado estava em 80%, depois de uma forte subida face aos 35% registados no final de 2014, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento.
O ministro das Finanças da Zâmbia espera receber o diretor do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Lusaca, no próximo mês, para debater as alternativas ao primeiro país africano em ‘default’ (incumprimento financeiro) em contexto da pandemia de covid-19.
« É suposto uma equipa vir cá no próximo mês para finalizarmos um acordo sobre qual é o programa específico que vamos usar, se é um instrumento de crédito alargado, ou um programa monitorizado pela equipa do FMI, todas essas coisas precisam de ser debatidas, mas não é como se não houvesse um diálogo, há muitas conversas a realizarem-se de forma privada », disse Bwalya Ng’andu, numa entrevista a uma televisão da Zâmbia, citada na terça-feira pela agência de informação financeira Bloomberg.
« O diretor para África provavelmente virá para ajudar no processo », acrescentou o responsável, que deu a entrevista poucos dias depois de se tornar o primeiro país africano a entrar em ‘default’, ao falhar o pagamento da prestação.
A Zâmbia tinha pedido aos credores privados para aceitarem os mesmos termos da moratória em vigor ao abrigo da Iniciativa para a Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), que se aplica apenas à dívida a credores oficiais bilaterais, nomeadamente países e instituições financeiras multilaterais.