Moçambique: Governo recusa confirmar presença de empresas privadas de segurança

O Governo moçambicano declinou no parlamento confirmar a presença de empresas privadas de segurança na luta contra grupos armados na província de Cabo Delgado, norte do país, justificando com “o caráter sensível” e “militar” do assunto.

Leia também: Ataques Em Moçambique. Ministro Da Defesa Diz Que Ataque A Palma Não Coloca Em Causa Exploração De Gás

“O tratamento deste tipo de matérias sensíveis é geralmente reservado às Forças de Defesa e Segurança (FDS)”, afirmou o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, na Assembleia da República.

O governante respondia a perguntas da oposição sobre a presença e o custo de “mercenários” ao lado das forças moçambicanas na luta contra os grupos armados que protagonizam ataques na província de Cabo Delgado.

Sem pronunciar a palavra “mercenários”, como fez a oposição parlamentar, o primeiro-ministro assinalou que, na luta contra o “terrorismo”, o executivo conta com a cooperação internacional, nomeadamente da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), mas assinalou que não podem ser prestados pormenores sobre matérias de domínio militar.

Leia também: Cabo Delgado: “Estamos A Fazer De Tudo” Para Garantir Normalidade Em Palma, Diz Proteção Civil

“Não se pode perder de vista que alguns desses domínios de apoio e assistência ao combate ao terrorismo são de caráter militar”, enfatizou.

As duas bancadas da oposição parlamentar criticaram a falta de informação sobre a presença de empresas privadas na guerra em Cabo Delgado, enquanto o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), apoiou a posição do executivo, sob o argumento de que não devem ser divulgados pormenores sobre a estratégia operacional das FDS.

“O povo quer segurança, mas o que recebe deste Governo ingrato é uma fatura pesada de dinheiros drenados para mercenários sem escrúpulos e violadores de direitos humanos, que atuam fora das leis que esta Assembleia da República estabeleceu”, afirmou o deputado Silvério Ronguane, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar, que colocou ao executivo a questão da presença de “mercenários” em Cabo Delgado.

Leia também: No Dia 7 De Abril, Mulheres Esquecem Festa E Cozinham Para Deslocados

Para a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, a ação de grupos armados na província de Cabo Delgado tem relação com os projetos de gás natural na área e é a manifestação de que os recursos naturais estão a ser uma maldição para o país.

Por sua vez, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) acusou a oposição de colocar em perigo a defesa da pátria por estar a exigir a exposição da estratégia da guerra contra o “terrorismo”.

“Estratégia militar é isso mesmo, é estratégia, e não pode aqui o Governo divulgar detalhes sobre as suas operações no terreno”, afirmou Lucinda Malendza, deputada da Frelimo.

Leia também: Famílias Em Moçambique Abrigam Deslocados De Cabo Delgado

Os detalhes do combate ao terrorismo, prosseguiu, não podem ser colocados em “hasta pública”, referiu.

Lionel Dyck, líder do grupo militar privado sul-africano Dyck Advisory Group (DAG), anunciou no final de março que ia deixar de dar apoio aéreo às Forças Armadas moçambicanas, após um contrato de um ano.

A organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI) exigiu no mês passado a investigação a eventuais violações de direitos humanos por parte das forças em conflito em Cabo Delgado, incluindo forças privadas, mantendo uma preocupação que já expressou várias vezes em relação à sorte da população civil nas zonas de conflito.

leave a reply