O presidente executivo da petrolífera francesa Totalenergies alertou hoje que a empresa só retomará as operações no norte de Moçambique quando as populações estiverem seguras e houver garantias de que não terão de sair novamente.
« Não decidimos de todo abandonar o projeto, mas só voltaremos quando estivermos convencidos de que basicamente podemos voltar, mas não para sair depois de seis meses, porque aí é o fim da questão », alertou o responsável durante a apresentação de resultados da empresa, em Paris.
Citado pela agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP), Patrick Pouyanné sublinhou que a empresa « não pretende, de todo, abandonar o projeto » e está disposta a « esperar o tempo que for preciso », mas acrescentou: « Só iremos quando considerarmos que há condições de segurança, não só do local, mas também da população, e que a estabilidade e a paz duradoura regressaram a Cabo Delgado ».
No final de janeiro, em Maputo, Pouyanné disse querer retomar o projeto, suspenso desde o ano passado, ainda em 2022.
« O meu objetivo é que [o projeto] recomece em 2022, mas não estou sozinho. Nós estamos prontos », referiu, no edifício da Presidência da República em Maputo, após um encontro com o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, no dia 31 de janeiro.
A construção da fábrica de liquefação de gás, extraído do fundo do mar (cerca de 40 quilómetros ao largo) é o maior investimento privado financiado atualmente em África e foi suspenso em março de 2021.
Um ataque armado à vila de Palma, que acolhia as empresas subempreiteiras e muitos dos trabalhadores do projeto, fez com que fosse invocada « force majeure » (termo contratual para ‘força maior’, em que nenhuma das partes pode ser responsabilizada) para travar todos os trabalhos em curso.
« Estou otimista », disse Pouyanné, sobre a retoma dos trabalhos, embora sem compromissos.
O CEO da Totalenergies disse que quando voltar a Moçambique quer poder ir « a Palma, Mocímboa da Praia e Mueda: quando vir que a vida está de volta ao normal, com serviços do Estado e população, aí o projeto pode recomeçar », referiu.
Patrick Pouyanné disse que « muitos progressos já foram feitos e quero dar os parabéns às autoridades moçambicanas que juntamente com o Ruanda e SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] conseguiram que muita coisa fosse feita ».
Uma força militar conjunta tem combatido os grupos insurgentes na região.
Pouyanné fez referência a dois pontos cruciais, Mocímboa da Praia e Palma, apontando-os agora como sítios seguros.
« Mas há ainda algum progresso por fazer para termos uma segurança sustentada. Queremos ver a população e as vilas a voltar as suas vidas normais », destacou.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.