Donald Trump enfrenta uma crise inédita, marcada por um embate direto com sua base eleitoral mais fiel. Enredado nos desdobramentos do caso Epstein — escândalo envolvendo pedofilia e tráfico sexual de menores —, o ex-presidente tenta retomar o controle da narrativa, mas encontra resistência inclusive entre seus aliados mais próximos.
“Essas pessoas estão fazendo o trabalho dos democratas, são estúpidas…” — a declaração, surpreendente, veio do próprio Trump, referindo-se a seus eleitores. Poucos dias antes, ele já expressava incômodo em sua rede social: “O que está acontecendo com meus caras e, em alguns casos, minhas garotas?” Comentários que escancaram o mal-estar instalado na órbita trumpista, agora abalada por uma história que, por anos, serviu de munição contra as “elites corruptas” de Washington.
Um escândalo sem fim e versões em mudança
O caso Epstein, batizado com o nome do financista Jeffrey Epstein, envolve acusações graves de abuso sexual de adolescentes e tráfico humano. A investigação foi abruptamente encerrada após o suicídio do acusado na prisão, em 2019, antes que um julgamento ocorresse. Desde então, o episódio alimentou teorias conspiratórias, desconfiança institucional e especulações sobre uma suposta lista oculta de nomes influentes envolvidos no escândalo.
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Comprar um espaço para minha empresa.Durante sua presidência e sua campanha posterior, Trump usou a promessa de “verdade e transparência” no caso como pilar retórico de sua luta contra o sistema. No entanto, um relatório publicado em julho pela então secretária de Justiça Pam Bondy mudou o jogo: segundo o documento, não há evidências de chantagem, conspiração nem encobrimento por parte de elites. A investigação oficial descartou inclusive a existência de uma lista oculta de clientes de Epstein.
O impacto foi imediato. Para Trump, surgem dois dilemas desconfortáveis: ou seu próprio governo está acobertando a verdade, minando sua promessa de transparência; ou as teorias que alimentou durante anos eram infundadas, colocando-o em desacordo direto com o discurso conspiratório que ajudou a fortalecer.
O MAGA contra-ataca: a base se volta contra o líder
A decepção foi especialmente intensa entre os seguidores do movimento “Make America Great Again” (MAGA), núcleo duro do trumpismo. Acostumados a ver em Trump um aliado contra o “estado profundo” e as supostas redes de pedocriminalidade nas elites, muitos se sentiram traídos.
Influenciadores de extrema-direita e vozes proeminentes do trumpismo reagiram com indignação. A resposta inicial de Trump — repreendendo publicamente seus apoiadores — só agravou o ressentimento. Reconhecendo o risco político, Trump adotou uma rara postura de recuo: solicitou judicialmente a publicação de depoimentos-chave da investigação Epstein, em tentativa de mostrar que não há nada a esconder.
A velha tática: atacar a imprensa
Buscando desviar o foco, Trump recorreu a uma de suas estratégias preferidas: atacar a mídia. O alvo da vez foi o respeitado Wall Street Journal, que publicou uma matéria revelando a existência de uma carta assinada por Trump e enviada a Epstein em 2003, por ocasião de seu aniversário. A carta, de conteúdo inapropriado, compromete a narrativa de distanciamento que o ex-presidente sempre tentou manter.
Embora já se soubesse que Trump e Epstein se conheciam — há fotos públicas que comprovam encontros —, o ex-presidente sempre negou qualquer proximidade ou conhecimento sobre as atividades criminosas do financista. Com a carta em mãos da imprensa, a ameaça se intensifica.
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Anuncie aqui: clique já!A reação foi proporcional ao risco: Trump abriu um processo por difamação contra o jornal, exigindo 10 bilhões de dólares em indenizações. A ação é interpretada como mais uma manobra de contra-ataque, mas também revela o grau de tensão que o ex-presidente enfrenta.
Uma crise que redefine o campo trumpista
No fim das contas, o caso Epstein não é apenas uma ferida política para Trump — é um divisor de águas dentro do trumpismo. Pela primeira vez, um dos pilares simbólicos do movimento colapsa, revelando contradições internas e colocando o líder em posição defensiva diante de sua própria tropa.
Mais do que nunca, Trump parece isolado, tendo que escolher entre preservar sua narrativa ou enfrentar a verdade que ajudou a distorcer.