Pelo menos 22 pessoas, incluindo um agente da polícia, perderam a vida e cerca de 200 ficaram feridas em resultado dos protestos contra o aumento do preço dos combustíveis iniciados na segunda-feira. A informação foi confirmada pelo ministro do Interior, Manuel Homem.
A polícia avançou ainda que mais de 1.200 pessoas foram detidas na sequência de uma greve convocada pelos taxistas, que rapidamente se transformou numa das ondas de protesto mais amplas e disruptivas dos últimos anos em Angola.
Supermercados, lojas e outros estabelecimentos permanecem encerrados, e milhares de cidadãos optaram por não sair de casa.
Fontes hospitalares em Luanda — que pediram anonimato — revelaram que os serviços de urgência foram completamente sobrecarregados nas últimas 24 horas. Tiros esporádicos foram ouvidos na cidade durante segunda e terça-feira.
“Recebemos manifestantes com ferimentos graves, traumas múltiplos e alguns em estado crítico. Infelizmente, vários não resistiram. Receamos que o número real de mortos seja superior ao anunciado oficialmente,” declarou um médico ao serviço de urgência.
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Comprar um espaço para minha empresa.Violência espalha-se por várias províncias
O ministro do Interior pronunciou-se depois de uma reunião do Conselho de Ministros presidida por João Lourenço na quarta-feira.
“Nos últimos dois dias, registaram-se atos de vandalismo que colocam em causa a segurança pública nas províncias de Luanda, Huambo, Benguela e Huíla. Ainda assim, a situação geral do país permanece estável,” afirmou Manuel Homem.
O ministro acrescentou que vários edifícios foram destruídos ou saqueados, incluindo supermercados, lojas e instituições bancárias. Ambulâncias, autocarros e viaturas privadas também sofreram danos.
A presidência angolana declarou que “os atos protagonizados pelos manifestantes, agravados por infiltrados com intenções criminosas, representam uma ameaça à ordem pública”.
A origem do conflito: subsídios aos combustíveis retirados
No início de julho, o Governo implementou uma subida de mais de 33% no preço do gasóleo como parte do plano de eliminação progressiva dos subsídios aos combustíveis, numa das nações mais ricas em petróleo do continente.
O Presidente João Lourenço minimizou os receios, afirmando à CNN Portugal que “os manifestantes estão a usar o preço da gasolina como pretexto para desestabilizar o Governo”.
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Anuncie aqui: clique já!Taxistas demarcam-se da violência
As associações de taxistas, que convocaram a paralisação de três dias, afastaram-se dos atos de vandalismo e dos saques, garantindo que não apoiam qualquer forma de destruição.
Na noite de terça-feira, um voo da Lufthansa entre Frankfurt e Luanda foi cancelado. Um passageiro britânico contou à BBC que lhe foi dito que a razão era a “situação política em Angola”. A companhia aérea confirmou o cancelamento, reforçando que “a segurança de passageiros e tripulantes é a principal prioridade”.
Alertas internacionais e escassez nos postos
Vários consulados e embaixadas internacionais emitiram alertas de segurança aos seus cidadãos. A embaixada dos Estados Unidos aconselhou a “limitar os movimentos não essenciais dentro de Luanda” e a manter a vigilância.
Na capital, formaram-se filas longas nos postos de abastecimento, com muitos cidadãos a tentar encher os depósitos e abastecer-se de bens essenciais.
A presença policial e militar intensificou-se visivelmente nas ruas de Luanda, com viaturas blindadas e agentes armados a patrulharem diversos bairros.
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Comprar um espaço para minha empresa.Críticas da oposição e agravamento da crise social
A coligação opositora Frente Patriótica Unida (FPU) manifestou solidariedade para com os cidadãos afetados pela crise social e económica que se vive em Angola, denunciando políticas públicas desajustadas, corrupção e má governação.
“Vivemos as consequências de políticas públicas desconectadas da realidade do país, de uma governação ineficaz e da ausência de sensibilidade humana por parte do Governo,” lê-se no comunicado da FPU.
Ainda assim, o movimento condenou os atos de destruição de propriedade pública e privada.
A retirada dos subsídios aos combustíveis, num contexto de fragilidade económica e tensão social, provocou um colapso generalizado do quotidiano em várias cidades angolanas. O impacto direto nos preços dos transportes e produtos de primeira necessidade — agora mais caros devido ao aumento dos custos logísticos — atinge sobretudo as camadas mais vulneráveis da população.