Pelo menos 40 pessoas foram mortas num ataque a um campo de deslocados na região ocidental do Darfur, no Sudão, de acordo com um grupo humanitário que atua na área.

O Abu Shouk Emergency Response Room informou que o ataque de segunda-feira foi realizado pelas Rapid Support Forces (RSF). O comitê de resistência da cidade vizinha de el-Fasher, formado por cidadãos locais e ativistas, também confirmou os ataques.

El-Fasher, que também sofreu intensos ataques, é o último reduto importante no Darfur controlado pelo exército e seus aliados, que enfrentam há dois anos as forças paramilitares RSF em uma guerra civil prolongada. O conflito já gerou uma crise humanitária grave, com alertas da ONU sobre famílias presas na cidade sitiada enfrentando fome iminente.

Mídia sudanesa relatou que o campo foi atingido pelo fogo cruzado do conflito em el-Fasher. Segundo o grupo humanitário dentro de Abu Shouk, onde vivem cerca de 200.000 pessoas, algumas das vítimas foram mortas em suas casas, enquanto outras foram abatidas em espaços públicos.

Uma organização baseada nos EUA, especializada em imagens de satélite e vídeos, identificou um grupo de 40 veículos leves nos bairros do noroeste do campo, o que parece confirmar relatos de que o ataque veio do norte. O Yale Humanitarian Research Lab também investiga imagens e vídeos que supostamente mostram membros da RSF atirando em pessoas que tentavam fugir, além de proferirem insultos étnicos.

O campo de Abu Shouk foi criado há mais de duas décadas por comunidades não-árabes, incluindo Fur e Zaghawa, que fugiam de ataques da milícia Janjaweed. As RSF têm origem nessa mesma milícia, acusada de genocídio e amplamente responsabilizada por atos de limpeza étnica em Darfur, motivo pelo qual foram sanacionadas pelos EUA.

Combatentes Zaghawa se uniram ao exército na defesa de el-Fasher, levantando a possibilidade de que a RSF alvejasse deliberadamente civis Zaghawa no campo. Campos de deslocados próximos de el-Fasher já foram alvo de ataques durante a guerra. Em abril, mais de 100 pessoas morreram e milhares fugiram do campo de Zamzam após ocupação pela RSF.

Desde o início do conflito em abril de 2023, dezenas de milhares de pessoas já morreram, 12 milhões foram deslocadas de suas casas e a fome foi declarada em várias regiões do Sudão, tornando a situação humanitária extremamente crítica.