A ultranacionalista Sanae Takaichi foi nomeada esta terça-feira Primeira-Ministra do Japão, tornando-se a primeira mulher na história do país a ocupar o cargo mais alto do governo. A nomeação foi possível graças a uma coligação parlamentar firmada na véspera, após negociações intensas de última hora.
A Câmara Baixa do Parlamento japonês elegeu Takaichi logo na primeira votação, e a sua designação tornar-se-á oficial após o encontro com o imperador Naruhito, previsto para o final do dia.
Com esta nomeação, o Japão passa a ter o seu quinto chefe de governo em apenas cinco anos, sinal de uma instabilidade política persistente.
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Anuncie aqui: clique já!Uma líder conservadora num cenário político fragmentado
Takaichi, que em 4 de outubro venceu as eleições internas do Partido Liberal Democrata (PLD) — no poder quase sem interrupção desde 1955 —, herda um cenário político complexo.
O PLD perdeu nos últimos meses a sua maioria nas duas câmaras do Parlamento, em parte devido a um escândalo financeiro que abalou a credibilidade do partido.
O aliado tradicional, o partido centrista Komeito, rompeu com a coligação em vigor desde 1999, afirmando desconforto com as posições ultraconservadoras de Takaichi e com a forma como o partido geriu o caso.
Para garantir a sua eleição e suceder ao ex-primeiro-ministro Shigeru Ishiba, Takaichi formou uma nova aliança com o Partido Japonês da Inovação (Ishin), de centro-direita reformista.
A nova chefe de governo prometeu “reforçar a economia japonesa e refundar o país”, tornando-o “capaz de assumir as suas responsabilidades perante as gerações futuras”.
Um governo com mais mulheres “à escandinava”
Inspirada pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, conhecida como “a Dama de Ferro”, Takaichi quer compor um executivo com um número de mulheres comparável aos padrões escandinavos — uma mudança radical num país onde, até agora, apenas duas mulheres faziam parte do governo.
Entre as novas nomeações, destaca-se Satsuki Katayama, ex-ministra da Revitalização Regional, que deverá assumir a pasta das Finanças, segundo a imprensa nipónica.
O Japão ocupa a 118.ª posição entre 148 países no relatório de 2025 do Fórum Económico Mundial sobre desigualdade de género, e apenas 15% dos deputados da Câmara Baixa são mulheres.
Takaichi, que fala abertamente sobre os desafios da saúde feminina, incluindo sintomas da menopausa, promete quebrar tabus e aumentar a representatividade feminina na política.
Contudo, as suas posições conservadoras sobre igualdade de género geram controvérsia: ela rejeita a revisão da lei que obriga casais a partilhar o mesmo apelido e apoia uma sucessão imperial exclusivamente masculina.
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Comprar um espaço para minha empresa.Desafios domésticos e internacionais
Na sua terra natal, Nara, a ascensão de Takaichi é recebida com entusiasmo.
“Espero que ela traga mudanças reais e torne o Japão um lugar mais fácil para as mulheres viverem”, afirmou Keiko Yoshida, empregada de escritório de 39 anos.
A nova Primeira-Ministra terá de enfrentar problemas estruturais profundos, como o envelhecimento populacional e a estagnação económica da quarta maior economia do mundo.
A coligação entre o PLD e o Ishin soma 231 assentos no Parlamento, dois a menos que os 233 necessários para a maioria absoluta, o que obrigará Takaichi a negociar com outras forças políticas para aprovar as suas propostas legislativas.
Em política económica, Takaichi tem defendido aumento dos gastos públicos, seguindo a linha do seu mentor, Shinzo Abe, embora tenha moderado o discurso recentemente. A sua vitória, contudo, impulsionou a Bolsa de Tóquio a níveis recorde.
No campo diplomático, a nova líder procura adotar uma postura prudente face à China e evitar tensões desnecessárias — sinal disso foi a sua ausência do santuário Yasukuni, frequentemente visto pelos vizinhos da Ásia como símbolo do militarismo japonês.
Na agenda imediata, Takaichi terá de preparar-se para a visita do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marcada para a próxima semana — um teste precoce à sua capacidade de liderança internacional.
Um Japão em transição
Com a popularidade do PLD em declínio e o crescimento de movimentos populistas como o Sanseito, que descreve a imigração como uma “invasão silenciosa”, Takaichi assume o comando num momento de grande polarização política.
Apesar das divisões, a sua ascensão representa um marco histórico para o Japão, um país ainda marcado por fortes tradições patriarcais.
Resta saber se a nova Primeira-Ministra conseguirá transformar o simbolismo da sua nomeação em mudanças concretas — e restaurar a confiança dos japoneses na sua classe política.