Tomás Vieira Mário tem um novo livro intitulado « Carta ao meu pai e outras memórias« , a obra literária será lançada as 16 horas de sexta-feira, no Instituto de Formação Profissional da Telecom Moçambique (Tmcel), na cidade de Maputo.
Nesta nova aparição em livro, o escritor e jornalista narra suas vivências humanas desde a adolescência no meio rural em que nasceu e cresceu, na província de Inhambane, e peripécias do seu percurso profissional, de mais de quatro décadas.
Carta ao meu pai e outras memórias apresenta-se como uma homenagem do jornalista aos seus pais já falecidos, ao mesmo tempo que assinala os seus 43 anos de carreira jornalística, iniciada na Rádio Moçambique em Outubro de 1977.
O livro de Vieira Mário divide-se em cinco capítulos, que captam vivências registadas a partir de igual número de lugares, nomeadamente a sua aldeia natal, Nzualo, no distrito de Homoine, e, sucessivamente, as Cidades de Maputo, Lichinga, Lisboa e Roma.
Recorrendo a técnica de pequenas histórias, onde a crónica jornalística, baseada em factos, confunde-se com o conto, adianta uma nota de imprensa sobre o livro, o autor viaja no tempo e no espaço, entrando pela porta do sistema de ensino colonial no meio rural, dominado pela Igreja Católica Romana, para logo a seguir mergulhar nos anos gloriosos da independência nacional, a que se segue a revolução popular, que o jornalista vai viver intensamente a partir da Província do Niassa, onde passa os primeiros três anos da sua carreira. Inevitavelmente, a memória do sacrifício consentido, em nome da promessa do “Homem novo”, a emergir das “zonas libertadas” de Mavago é invocada.
O livro de Vieira Mário tem o prefácio de Almiro Lobo, que afirma: “Da sua experiência no Niassa mítica província nortenha de felicidade adiada despontam algumas das perplexidades que irrompem do confronto com a realidade que os discursos triunfalistas não traduziam”, lê-se na nota sobre o livro, onde se acrescenta: “Os ciclos de Maputo e de Lisboa vão coincidir com os anos da guerra fratricida que, ao longo de 16 anos, vai dilacerar o país, então em confrontação violenta com o regime do Apartheid da África do Sul, em cujo território vai morrer o Presidente Samora Moises Machel e sua comitiva, de mais de 30 membros.
Quando o avião transportando Samora Machel cai nas montanhas de Mbuzini, um dos colaboradores mais próximos do estadista moçambicano, o escritor Luís Bernardo Honwana, então Secretário de Estado da Cultura, encontra-se em missão oficial em Portugal. No mesmo avião morre o seu irmão mais novo, Fernando Honwana. E o autor de ‘Nós Matamos o Cão Tinhoso” vai balbuciar: “De novo, a Historia de Moçambique surpreende-me no caminho… foi também assim no dia da proclamação da independência nacional’. Uma estória humana profundamente comovente, que preenche algumas páginas da Carta ao meu pai e outras memórias”.
De acordo com a nota, entre as memórias da sua passagem por Lisboa, há uma viagem ao arquipélago dos Açores, aonde o jornalista vai seguir as peugadas do Imperador Gungunhana, exilado na Ilha Terceira, desde 1896, na companhia de seus aliados, Mulungo e Zilhalha, e do filho Godide. E vai, aqui, cruzar-se, cara a cara, com uma memória viva da humilhação colonial: a figura de Roberto Frederico Zichacha, terceiro descendente do Régulo Ronga, Zilhalha Nwamatibjana, que ali deixara um remédio para a tosse, uma solução que leva, exactamente, o nome de Xarope Zichacha, ainda hoje muito usado na Ilha atlântica.
Igualmente, a saga de mais de 40 anos de profissão desemboca na capital italiana, Roma, a chamada “Cidade Eterna”, onde o jornalista afirma ter conhecido melhor Moçambique, ao fazer a cobertura jornalística das históricas conversações de paz, que culminaram com a assinatura do Acordo Geral de Paz, num processo catártico que viria a pôr termo à guerra de 16 anos, entre o Governo e a Renamo. “Em Roma ganhei uma doença que nunca tinha tido antes: a enxaqueca aguda”, recorda o autor.
O novo livro de Vieira Mário termina com um “Ciclo universal”, o qual, por sua vez, fecha com uma história que, sendo proveniente do Quénia, bem pode ser transposta para a realidade actual de Moçambique. A história tem como titulo: “É a nossa vez de comer”!
Por: O País