Corredor logístico De Marselha à Índia: é anunciado um projeto ferroviário “Rota da Seda” entre a Europa e a Ásia

À margem da cimeira do G20, este fim de semana, vários países formalizaram o lançamento de um projeto de uma vasta rede ferroviária que ligará portos da Europa, do Médio Oriente e da Índia, com investimento americano.

A reorganização do comércio mundial continua. Na cimeira do G20, que se realizou em Nova Deli no fim de semana de 9 e 10 de setembro, os Estados Unidos fizeram avançar um vasto projeto: a criação de um “corredor” logístico que ligue a Índia à Europa através do Médio Oriente.

Um acordo de princípio nesse sentido foi assinado no sábado entre os Estados Unidos, a União Europeia, a Índia, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, a França, a Alemanha e a Itália, anunciou a Casa Branca num comunicado de imprensa. “Isto é realmente importante”, comentou o Presidente dos EUA, Joe Biden, descrevendo o acordo como “histórico”. Por seu lado, Emmanuel Macron espera fazer de Marselha a “cabeça de ponte” europeia do projeto, elogiando a “competência” das empresas francesas nos sectores dos transportes e da energia.

“Queremos lançar uma nova era de conetividade através de uma rede ferroviária que ligue os portos da Europa, do Médio Oriente e da Ásia”, acrescentou a Casa Branca. O objetivo: criar “centros de comércio”, ao mesmo tempo que “encorajamos o desenvolvimento e a exportação de energia limpa”. Uma iniciativa saudada pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que falou de “uma ponte verde e digital entre continentes e civilizações”.

Para além da rede ferroviária, os países parceiros tencionam instalar cabos submarinos. Mas também um corredor de hidrogénio, que ligará os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita ao porto israelita de Haifa, e depois aos portos europeus.

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“Parceiros improváveis”

Embora fortemente centrado no comércio, este projeto visa também “fazer avançar a integração no Médio Oriente”, incluindo entre “parceiros improváveis”, comentou Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca. O corredor, que atravessará os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita, a Jordânia e Israel, poderá, por exemplo, desenvolver contactos entre Israel e a Arábia Saudita, inimigos de longa data.

De acordo com o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, este projeto irá “remodelar a face do Médio Oriente”. “Israel vai trazer todas as suas capacidades, toda a sua experiência e todo o seu empenho para fazer deste o maior projeto de colaboração da nossa história”, acrescentou.

Por seu lado, a Índia saudou na segunda-feira uma parceria “estratégica” com a Arábia Saudita. “A nossa cooperação mútua é importante para a paz e a estabilidade de toda a região”, afirmou o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, descrevendo a Arábia Saudita como um dos seus “parceiros estratégicos mais importantes”.

No final da reunião, Joe Biden aproximou-se do primeiro-ministro indiano e do príncipe herdeiro saudita Mohammed ben Salmane para um aperto de mão coletivo. Um gesto simbólico, um ano após o polémico “cheque” entre o Presidente americano e o príncipe herdeiro.

Contrariar as “novas estradas da seda”

Com este anúncio, Joe Biden está também a tentar preencher o espaço deixado vago pelo Presidente chinês Xi Jinping, que, tal como Vladimir Putin, não participou no G20. Para já, o calendário deste projeto de infra-estruturas não é claro, mas poderá vir a contrariar as “Novas Rotas da Seda”. Trata-se de um programa lançado há dez anos por Xi Jinping, no âmbito do qual Pequim efectua investimentos maciços em vários países em desenvolvimento para construir infra-estruturas.

Em junho, Joe Biden criticou o projeto chinês, descrevendo-o como um “programa de endividamento e confisco”. Se o novo corredor for para a frente “mudará as regras do jogo”, disse Michael Kugelman, um especialista do Wilson Center em Washington, numa mensagem no X (antigo Twitter).

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