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Cultura/Aboubakari II: O Imperador Africano que Pode Ter Descoberto a América Séculos Antes de Colombo

E se a história que conhecemos tivesse esquecido um capítulo essencial? Em 1492, Cristóvão Colombo desembarca onde acredita serem as Índias. Porém, uma hipótese fascinante levanta a possibilidade de que, quase dois séculos antes, um imperador africano, Aboubakari II, teria realizado uma viagem semelhante, abandonando o trono do Mali para explorar o desconhecido. Mito ou realidade oculta?

No início do século XIV, o Império do Mali, um dos mais poderosos da época, dominava a África Ocidental. Seu soberano, Aboubakari II (ou Abubakar II, Bakari II), governou brevemente entre 1310 e 1312, mas sua ambição ultrapassava as fronteiras do império: queria descobrir o que havia além do Atlântico.

Essa história é reatada pelo historiador sírio Shihab al-Din al-Umari (1300-1349) em sua enciclopédia Masalik Al-Absar. Ele conta que, durante a peregrinação a Meca em 1324, o grande imperador Kankou Moussa, sucessor de Aboubakari, confidenciou a estudiosos egípcios que seu antecessor havia enviado duas expedições marítimas. A primeira, com 200 navios, desapareceu quase toda, restando apenas uma embarcação cujo tripulante relatou ter sido levado por uma corrente forte. Não desistindo, Aboubakari II teria reunido então 2.000 navios e partido pessoalmente… sem nunca mais voltar.

Embora pareça um romance de aventura, alguns estudiosos defendem a veracidade do relato. Pathé Diagne aborda o tema em seu livro Bakari II (1312) e Cristóvão Colombo (1492): À Encontro de Tarana ou a América (1992). De forma similar, Gaoussou Diawara, autor de A Saga de Abubakari II, aprofunda essa teoria.

Há elementos curiosos: Colombo menciona em seus escritos povos de pele negra na América; esculturas mesoamericanas exibem traços africanos; e lanças douradas encontradas na América do Sul guardam semelhanças com as do Mali medieval. O documentário African Glory de Thierry Bugaud explora amplamente essas descobertas, sugerindo uma verdadeira epopeia africana.

Além disso, o historiador Ivan Van Sertima publicou They Came Before Columbus (1976), propondo que as correntes do Atlântico poderiam ter levado navios malienses às costas americanas. Pesquisas ainda apontam conexões linguísticas entre o mandingue e línguas indígenas americanas.

Se Aboubakari II realmente alcançou a América, por que seu feito é tão pouco conhecido? Seria um relato incômodo? A ideia de um imperador africano cruzando o Atlântico antes dos europeus desafia o cânone das grandes descobertas, que por séculos foram contadas de um ponto de vista eurocêntrico, diminuindo explorações africanas. Teria ocorrido uma censura na tradição mandinga?

O historiador Djibril Tamsir Niane sugere que Aboubakari II foi deliberadamente apagado das histórias mandingas. Seu feito poderia ter sido visto como loucura, uma fuga irresponsável do poder numa época em que a peregrinação a Meca era considerada a maior realização. O professor Gaoussou Diawara acredita que os griôs do Mali esconderam essa história por a considerarem um desperdício de recursos e abandono do trono. Mito ou verdade a ser redescoberta?

Muitos historiadores permanecem céticos. Maurice Delafosse (1870-1926), africanista francês, não inclui Aboubakari II na cronologia dos imperadores do Mali. Charles Monteil (1871-1949) afirma que seu nome não aparece em nenhuma tradição oral mandinga. Contudo, outros defendem que a travessia era tecnicamente possível.

Em 2023, o documentário African Glory reacendeu o debate, sugerindo que a expedição não só existiu como foi bem-sucedida. Se comprovado, isso mudaria nossa visão do papel da África na história mundial: não apenas vítima da escravidão, mas protagonista nas trocas transatlânticas, muito antes da colonização.

Este relato le vanta uma questão mais ampla: quantas outras histórias foram apagadas ou reescritas? É fundamental promover pesquisas sobre a história africana e reavaliar narrativas para dar voz a exploradores esquecidos.

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