A candidatura credível e ambiciosa do Marrocos para acolher um Grande Prémio de Fórmula 1, o que faria do país o representante africano tão aguardado no Campeonato do Mundo, ainda depende da formalização de um acordo com a organização da competição.
O projeto marroquino enfrenta a concorrência do Ruanda, cuja candidatura também é considerada válida — com uma condição: que seja alcançado um acordo de paz relacionado com o seu envolvimento na República Democrática do Congo. Os Estados Unidos estariam a desempenhar um papel de mediação neste processo. Este contexto obriga o Marrocos a agir com rapidez para garantir um lugar no calendário da F1.
Contudo, se os financiamentos forem assegurados, não se exclui a possibilidade de haver duas provas no continente africano. Um Grande Prémio em território marroquino apresenta vantagens logísticas notáveis, podendo as equipas transportar o seu material por ferry desde Espanha, evitando assim as complexidades do transporte aéreo.
Calendário da F1 em transformação
Várias provas europeias estão em risco de serem retiradas do calendário: Imola, Zandvoort e Barcelona podem desaparecer em breve, e Montreal já não é considerada uma etapa essencial. Por outro lado, Madrid deverá estrear-se em 2026, com o novo traçado urbano denominado “MadRing”.
Apesar de a publicação oficial do calendário poder ocorrer a qualquer momento, tudo indica que a Fórmula 1 aguardará que a FIA o anuncie no próximo Conselho Mundial do Desporto Motorizado, mantendo a aparência de participação da federação no processo — ainda que esta já não tenha influência decisiva.
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Um circuito de referência internacional em Al Houara
A proposta marroquina envolve a construção de um circuito permanente em Al Houara, no sul de Tânger, integrado num complexo de 1,5 mil milhões de dólares distribuído por 1.600 acres junto ao Atlântico. Inspirado no circuito Yas Marina de Abu Dhabi, o projeto incluirá hotéis, residências, centro de convenções, parque temático, centro comercial, arena de eventos e uma pista de corrida de nível internacional.
O complexo estará localizado próximo do Hilton Tangier Al Houara Resort & Spa, um hotel de cinco estrelas inaugurado em 2019 com financiamento da Qatari Diar, empresa pública de investimento imobiliário do Qatar. A infraestrutura será servida por uma rede de acessos privilegiada: aeroporto internacional, autoestrada e linha de TGV que liga Tânger a Rabat e Casablanca.
Marrocos: um país em ascensão
Com 17,4 milhões de visitantes em 2023, o Marrocos é o país mais visitado de África. Vai ainda coorganizar o Mundial de Futebol de 2030 com Espanha e Portugal, reforçando a sua capacidade de acolher grandes competições internacionais.
No setor industrial, o setor automóvel marroquino regista um crescimento notável, com cerca de 500 mil veículos produzidos no último ano. O país é atualmente o maior exportador para a União Europeia e lidera a produção automóvel no continente, à frente da África do Sul.
Uma candidatura estratégica e experiente
Com uma visão clara, infraestruturas em rápido desenvolvimento e crescente influência económica, o Marrocos apresenta um dossiê robusto que poderá conquistar os decisores da F1. A sua estratégia de diplomacia desportiva é apoiada por um historial recente no automobilismo: o traçado semiurbano de Marraquexe acolheu, no século XXI, etapas dos campeonatos mundiais FIA WTCC e Formula E, sendo as únicas provas em circuito de grande escala organizadas no continente africano.
Resta saber como se materializará esta ambição face à concorrência do Ruanda, sob a liderança de Éric Boullier, ex-diretor da McLaren e do Grande Prémio de França. Mas uma coisa é certa: o regresso de África ao calendário da Fórmula 1 está mais próximo do que nunca.