Começaram ontem os Jogos Paraolímpicos de Paris. É uma oportunidade para olhar para trás, para a criação deste evento, cuja história alternou entre avanços e recuos. Sylvain Ferez, co-curador da exposição “Histórias Paralímpicas” no Panthéon, explica.

Quando se realizaram os primeiros Jogos Paraolímpicos?

Oficialmente, com este nome, a primeira edição teve lugar em 1988, nos Jogos de Seul. Foi nesse ano que o termo “Paraolímpico” realmente surgiu. Antes disso, eram conhecidos como jogos “para-olímpicos” – “para” referindo-se a “paralítico”. Também pela primeira vez, a competição incluiu atletas com um vasto leque de deficiências. Na sequência destes Jogos, foi fundado o IPC – Comité Paralímpico Internacional.

Como surgiram os Jogos Paraolímpicos?

Alguns remontam as suas origens a 1948, quando os Jogos Hospitalares foram organizados no Hospital Stoke Mandeville, no Reino Unido, pelo Dr. Ludwig Guttmann. Este cirurgião alemão tinha fugido da Alemanha nazi em 1939 e foi acolhido em Inglaterra com uma bolsa de estudo oferecida por uma sociedade erudita. Conseguiu um emprego no departamento de neurocirurgia do hospital militar de Stoke Mandeville, que recebia os feridos da Royal Air Force. Muitos deles foram tratados por lesões na coluna vertebral. Durante a guerra, esta instituição médica tornou-se o berço da reabilitação moderna, com uma abordagem mais holística dos cuidados prestados aos doentes. Guttmann introduziu a reabilitação através do movimento, com actividades baseadas no desporto. Era também sensível à noção de “bem-estar” psicológico dos doentes. Consciente de que a vida no hospital podia ser deprimente, quis oferecer-lhes actividades de lazer.

Foi neste contexto que, em 1948, ano dos Jogos de Londres, teve a ideia de organizar os primeiros Jogos Hospitalares para pessoas com paralisia [os participantes competem em tiro com arco e netball, uma derivação do basquetebol]. Este evento tinha uma dimensão caritativa: o principal objetivo era comprar um autocarro adaptado para permitir aos participantes deslocarem-se entre diferentes hospitais em Inglaterra. O seu objetivo principal era comprar um autocarro adaptado para permitir aos participantes deslocarem-se entre diferentes hospitais de Inglaterra. Em França, a Amicale sportive des mutilés de France, fundada em 1954, enviou atletas – apenas em cadeiras de rodas – para os Jogos de Stoke Mandeville no ano seguinte.

1960 marcou outra data importante: pela primeira vez, em Roma, os Jogos “Paraolímpicos” realizaram-se no mesmo local que os Jogos Olímpicos, nas mesmas instalações. Mas a competição continuava a ser reservada a pessoas com paralisia.

Quando é que o evento se tornou mais inclusivo?

Em 1972, nos Jogos Paraolímpicos de Heidelberg, os amputados entraram no estádio, fizeram uma manifestação e exigiram em alta voz a sua participação na competição. Quatro anos mais tarde, nos Jogos de Toronto, foram incluídos ao lado dos deficientes visuais e dos cegos, após uma verdadeira luta. Depois, a competição tornou-se gradualmente mais inclusiva: os deficientes intelectuais foram incluídos a partir de 1992. No entanto, na sequência de um caso de batota na final de basquetebol de 2000 em Sydney – em que pessoas não deficientes teriam participado no jogo – o IPC decidiu excluir os deficientes mentais dos Jogos Paralímpicos, antes de os reintegrar em 2012. Quanto aos atletas surdos, aderiram ao Comité Paralímpico em 1989, mas não participaram em nenhuma competição. Consideram que não têm desvantagens no desporto e que, por isso, não têm necessidade de criar eventos específicos próprios.

Houve um ponto de viragem na transmissão e promoção dos Jogos Paraolímpicos?

Durante os anos 90, a imprensa e a televisão centraram-se nos atletas em cadeira de rodas. Na década de 2000, a cobertura mediática, embora ainda modesta, voltou-se para as lâminas de corrida, com a questão do hibridismo e a relação com a tecnologia. Este período foi também sinónimo de questionamento do desempenho do atleta Oscar Pistorius, em particular. Foi realmente nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, que os Jogos Paraolímpicos ganharam uma visibilidade muito maior, com foco na diversidade.