Quando a densa mancha começou a bloquear o céu em pleno dia, muitos moradores de uma aldeia de pastores, no norte do Quénia, imaginaram que se tratasse de uma chuva próxima. Mas a esperança se transformou em terror assim que a gigantesca mancha se revelou como um enxame de gafanhotos do deserto capazes de se deslocarem rapidamente, que desde o final de Dezembro vêm causando devastação no país.
O tamanho absurdo do enxame espantou os moradores. “Era como se um guarda-chuva tivesse coberto o céu”, disse Joseph Katoner Leparole. A comunidade tentou espantá-los usando um braço para persegui-los com bastões ou batucando em panelas de metal, e o outro para cobrir o próprio rosto e os olhos quando os insectos de um amarelo brilhante zumbiam em volta deles.
As crianças gritaram de medo, e os animais dos quais a aldeia depende para sobreviver ficaram em pânico. “As vacas e os camelos não enxergavam por onde andavam”, disse Leparole. Enquanto as pessoas lutavam para repelir a invasão, Leparole, lembrou das histórias que ouvia quando criança sobre enxames vorazes que outrora se deslocavam sobre esta região.
“O que então era uma história tornou-se realidade”, ele disse. O Quénia combate a pior praga de gafanhotos do deserto dos últimos 70 anos, e ela se espalhou pela parte oriental do continente e do Chifre da África, arrasando pastos e campos produtivos na Somália e Etiópia e invadindo o Sudão do Sul, Djibuti, Uganda e Tanzânia. Os insectos viajam até mais de 130 quilómetros por dia. Os enxames, que podem conter 80 milhões de gafanhotos adultos em cada quilómetro quadrado, comem diariamente a mesma quantidade de alimento de cerca de 35 mil pessoas.