Green/Ecologia: que é que vamos comer no futuro?

Sophia Roe, dans son studio à Brooklyn, le 14 juillet 2022

Alimentar um planeta sobrepovoado é o maior desafio dos próximos anos.

Como será a alimentação do futuro?

Em 15 de novembro de 2022, a população da Terra atingiu os 8 mil milhões de habitantes. Em 2050, prevê-se que aumente para 9,7 mil milhões e que ultrapasse os 10 mil milhões em 2080, de acordo com as projecções demográficas da ONU. Estes números estão a aumentar, ao mesmo tempo que os recursos naturais e o solo do planeta se estão a esgotar. Perante este cenário, repensar a forma como comemos está a tornar-se uma questão de sobrevivência. E investigadores e empresários já estão a apresentar soluções engenhosas que prometem algumas surpresas saborosas…

Semeando o amanhã através da agricultura regenerativa

“A escolha mais crucial para o futuro do planeta é: o que é que comemos? Que tipo de agricultura apoiamos? Regeneramos ou destruímos a Terra?”, afirma David Bronner, ativista e fundador da marca Dr Bronner’s, no documentário “Kiss The Ground” de Josh e Rebecca Tickell (na Netflix). As técnicas agrícolas convencionais esgotam o solo (e os alimentos) através da lavoura e do despejo de produtos químicos. Estes processos de sobre-exploração intensificam-se à medida que os rendimentos diminuem, até que o solo se torna inutilizável e totalmente desprovido de vida. Em suma, é o que se designa por desertificação. “25% dos solos do planeta foram degradados pela atividade humana”, explica o ecologista John D. Lui. E se continuarmos assim, dentro de 60 anos, as terras aráveis terão desaparecido completamente. Por outras palavras, não conseguiremos cultivar nada. Mas, felizmente, ainda não chegámos a esse ponto. Para reparar os danos já causados, é necessário apostar na agricultura regenerativa, cujo princípio fundamental é a diversificação das plantações numa mesma terra. A biodiversidade renasce e as colheitas recomeçam, com a promessa de melhores qualidades nutricionais. Além disso, esta técnica, que respeita a natureza, o homem e os animais, promete solos saudáveis que não só absorvem o CO² que libertamos para a atmosfera, como também o armazenam de forma sustentável. Esta seria uma arma secreta para arrefecer a Terra, inverter o aquecimento global e recomeçar um círculo virtuoso.

Proteínas amigas do ambiente

O IPCC (Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas) afirma que os produtos de origem animal são responsáveis por mais emissões de gases com efeito de estufa do que qualquer outra fonte alimentar. Para não falar do facto de ocuparem 83% das terras cultivadas no mundo, provocando a desflorestação (a criação de gado é responsável por 90% da desflorestação na Amazónia) e o esgotamento dos recursos hídricos (1 kg de carne de vaca requer 13 000 litros de água, contra 500 para 1 kg de milho). É por isso que produzir e consumir carne indiscriminadamente, como fazemos atualmente, já não é uma opção para o futuro. Mas os consumidores de carne não precisam de se preocupar, ela não terá desaparecido completamente. “Se comermos carne, esta deve provir de animais alimentados com erva em pastagens e abatidos humanamente”, afirma Ryland Engelhart, produtor do documentário “Kiss The Ground”. Outras opções mais futuristas estão já a surgir com a “carne de cultura”. Estes bifes, feitos a partir de células retiradas de animais, poderão mesmo ser dopados com vitaminas e minerais para compensar carências. Ao mesmo tempo, os insectos, já muito apreciados pelas populações asiáticas, continuarão a ganhar terreno nos países ocidentais como fonte alternativa de proteínas. Por fim, os peixes vegetais não tardarão a aparecer nas prateleiras dos supermercados juntamente com os bifes vegetais, tal como os produtos panados veganos da empresa francesa Onami Foods, criados a partir de algas e plantas.

Não há dúvida: nas próximas décadas, os vegetais vão dominar os nossos pratos. No seu relatório sobre a manutenção do aumento da temperatura global abaixo de +1,5°, o IPCC recomenda o consumo de mais proteínas vegetais do que de proteínas animais, através de uma dieta flexitariana. Um estudo da Universidade de Oxford, publicado na revista científica Nature, recomenda uma redução de 90% no consumo de carne e de 60% no consumo de leite e ovos até 2050. De acordo com a investigação, as proteínas vegetais fornecerão em breve ⅔ da nossa ingestão de proteínas, e estaremos a comer mais fruta, legumes e sementes.

O reinado das algas

Como vê, o desafio é encontrar fontes de nutrientes em alimentos que exijam menos recursos para produzir e que tenham menos impacto no ambiente. É o caso das algas marinhas, que estão repletas de vitaminas, proteínas, minerais e iodo, mas têm muito poucas calorias. “Para além de serem um superalimento para o ser humano, as algas marinhas são um verdadeiro super-herói para o planeta: capturam o CO² mais rapidamente do que as plantas terrestres e não precisam de pesticidas, fertilizantes ou água para crescer”, diz Cécile Bury, co-fundadora da marca Neptune elements, que deixou o seu trabalho como advogada para se dedicar ao cultivo desta pequena bomba nutricional de iodo da costa da Bretanha. “Atualmente, é considerada como o único alimento capaz de inverter o aquecimento global e a ONU fez mesmo do desenvolvimento deste sector uma questão mundial. A produção de uma tonelada de proteína de algas emite 140 vezes menos CO² do que a produção de uma tonelada de proteína de carne de vaca”. A boa notícia é que existe toda uma gama de variedades (sobretudo francesas) cujos sabores e texturas já estão a inspirar os melhores chefes de cozinha. A alimentação do futuro promete algumas descobertas interessantes.

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