Guerra tecnológica: o chip 5G da China preocupa Washington

SUQIAN, CHINA - SEPTEMBER 9, 2023 - Customers experience the newly launched Huawei Mate 60 series mobile phone at a Huawei store in Suqian, Jiangsu Province, China, September 9, 2023. (Photo by Costfoto/NurPhoto) (Photo by CFOTO / NurPhoto / NurPhoto via AFP)

O último smartphone revelado há dez dias pelo gigante chinês das telecomunicações Huawei, que tem estado sob sanções dos EUA nos últimos quatro anos, reacendeu a especulação sobre os esforços do país para recuperar o atraso no sector dos semicondutores.

É difícil considerar isto uma coincidência: foi durante a breve estadia na China da Secretária de Estado do Comércio dos EUA, Gina Raimondo, uma visita destinada a aliviar – um pouco – as tensões entre as duas superpotências, que o gigante das telecomunicações Huawei apresentou um novo modelo de smartphone, o Mate 60 Pro, a 29 de agosto. No seu interior, apresenta um processador made-in-China capaz de utilizar a rede 5G – uma estreia.

Apesar de a fabricante de equipamentos ser uma das líderes em infraestruturas 5G, nos últimos anos não tem conseguido obter os chips adequados para os seus telefones, devido às sanções impostas em 2019 pelos Estados Unidos em nome da segurança nacional, que têm continuado a apertar desde então. Agora, com o lançamento do Mate 60 Pro, os especialistas têm trabalhado a toda a velocidade nos últimos dez dias, particularmente em Washington: dado que as sanções foram entretanto alargadas a todo o sector chinês dos semicondutores, como é que o país conseguiu produzir um componente deste tipo?

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Duas gerações de diferença

A este respeito, temos de nos contentar com informações ainda mais fragmentadas, uma vez que a Huawei tem sido muito parcimoniosa nos pormenores técnicos do seu novo produto. Para já, as informações mais precisas provêm de análises encomendadas pela agência americana Bloomberg à TechInsights. Segundo a TechInsights, o circuito integrado que alimenta o Mate 60 Pro, o Kirin 9000s, foi produzido pelo principal fabricante de semicondutores da China, a Semiconductor Manufacturing International Co (Smic). O chip é gravado com uma finura de 7 nanómetros, enquanto os líderes mundiais, a TSMC de Taiwan e a Samsung da Coreia do Sul, estão agora duas gerações mais avançados, com uma finura de 3 nanómetros.

Por estar também sob sanções americanas, a Smic não pode utilizar as máquinas de gravação mais avançadas, da empresa holandesa ASML. Segundo a TechInsights, isso não impediu o fabricante de produzir o famoso processador com máquinas menos sofisticadas, ao custo, muito provavelmente, de uma produção mais limitada. “Com as máquinas antigas, é preciso repetir várias vezes as mesmas linhas: o processo é mais lento e os riscos de ‘falhas’ são mais elevados”, explica Pierre Sel, doutorando na Universidade de Viena, na Áustria, e cofundador da empresa de informações sobre a China EastIsRed.

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Um sector muito sensível

Nesta fase, é difícil avaliar a capacidade da Huawei para fazer do seu novo smartphone um sucesso comercial, e mais difícil ainda avaliar em que medida a China está em vias de recuperar o atraso no sector dos semicondutores, que se tornou muito sensível e no qual os Estados Unidos e Taiwan lideram a corrida.

Tanto mais que, nesta fase da autópsia do Mate 60 Pro, a TechInsights não só detectou componentes chineses, mas também – uma exceção notável – dois chips de memória do fabricante sul-coreano SK Hynix, que afirma nunca ter contornado as sanções americanas e que abriu um inquérito interno. Entrevistado pelo New York Times, Douglas Fuller, professor de economia internacional na Copenhagen Business School, refuta a narrativa dos meios de comunicação chineses de uma façanha nacional, citando a acumulação de componentes antes da entrada em vigor das sanções ou a evasão através de compras a terceiros. E critica a insuficiência dos controlos das exportações: “Os Estados Unidos permitiram que a Smic continuasse a beneficiar de um acesso significativo à tecnologia americana”.

“Apoio significativo do Estado”

No entanto, o caso também testemunha a resiliência da Huawei, que talvez tenha sido um pouco apressada em enterrar-se há alguns anos, quando as primeiras listas negras foram emitidas por Washington. O grupo sediado em Shenzhen “começou, logo após as primeiras sanções, a criar equipas dedicadas à conceção e produção de chips, provavelmente em parceria não oficial com a Smic, por exemplo”, explica Pierre Sel. A empresa adquiriu participações minoritárias em várias empresas do sector dos semicondutores, com o objetivo de criar um ecossistema que pudesse, a prazo, oferecer soluções de substituição, e faz um enorme investimento em investigação e desenvolvimento, com um apoio substancial do Estado”.

“O telefone Huawei é o último tiro disparado na guerra tecnológica entre os Estados Unidos e a China”, escreveu o New York Times na quarta-feira, 6 de setembro. É, no mínimo, um duro golpe para a estratégia americana de limitar o desenvolvimento tecnológico do seu principal concorrente e adversário. Há, no entanto, um risco significativo de reação negativa. Numa conferência de imprensa na Casa Branca, na terça-feira, o conselheiro de segurança nacional de Joe Biden, Jake Sullivan, indicou que o executivo estava a analisar o assunto. E dois membros republicanos da Câmara dos Representantes, Mike Gallagher (Wisconsin) e Michael McCaul (Texas), já apelaram aos seus governos para que reforcem as sanções contra as empresas tecnológicas chinesas.

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